RESUMO DOS TEXTOS

CIBERCULTURA E HUMANIDADES: ACERCA DA ARTICULAÇÃO NACIONAL DE UM NOVO CAMPO CIENTÍFICO INTERDISCIPLINAR NO BRASIL
Eugênio Trivinho (PUC-SP)

Resumo – Atmosfera material, simbólica e imaginária típica do capitalismo pós-industrial em sua fase comunicacional avançada, a cibercultura nomeia o presente: transnacional, põe-se partout, dentro e fora do cyberspace; desdobra-se em ritmo vertiginoso, ramifica-se sem controle e se complexiza sem possibilidade de reversão.

Pesquisas sobre o tema encontram-se espalhadas pelo Brasil e repercutem, nesse aspecto, tendências internacionais. Desde o início dos anos 90 até hoje, essas pesquisas autodemostraram vitalidade e prosperidade. Estão presentes, em especial, na PUC-SP, na UFRJ, na USP, na UFBA, na UFF, na UERJ, na PUCRS, na Unicamp, na UFRGS, na Unisinos, na UMESP, na Cásper Líbero, na UFPE, na UFES, na UFSC, na UTP, na UFMG, na UFJF, na ESPM e na UDESC, entre outras. Nos últimos dez anos, uma longa lista de obras e artigos científicos foi produzida por inúmeros expressivos pesquisadores.

A área de Comunicação no Brasil vem contribuindo grandemente para a compreensão do problema. Com efeito, não detém monopólio intelectual a respeito. As repercussões sociais das tecnologias e redes digitais suplantam todos os domínios particulares. A empiria da cibercultura se liga, por exemplo, ao desenvolvimento da engenharia genética, da astrofísica e das novas formas de guerra. Esse fato patenteia per se, além da própria magnitude do fenômeno, a necessidade de estudos interdisciplinares. Recobram-se, assim, os esforços simultâneos de várias áreas das Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes.

Em 2006, a comunidade científica envolvida com o tema encontrava-se, pois, madura – do ponto de vista teórico e epistemológico –, para dar o seu passo mais inovador e fecundo: implantar, no país, uma associação nacional com a missão institucional precípua [1] de articular pesquisadores(as), Centros, Núcleos e/ou Grupos de Pesquisa, Linhas de Pesquisa de Programas de Pós-Graduação e/ou Instituições; e de [2] prover condições adequadas e orientadas para a organização, expansão, aprofundamento e consolidação do conhecimento científico concernente. O embrião dessa associação remonta ao ano de 2000, quando foi pela primeira vez discutida por um seleto grupo de pesquisadores vinculados à COMPÓS - Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação. As razões para a sua criação constam do Caderno de Resumos do I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e Cibercultura, organizado pelo CENCIB - Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação e Cibercultura da PUC-SP e realizado nesta Universidade, no período de 25 a 29 de setembro de 2006, com apoio da CAPES e do Itaú Cultural e apoio cultural do TUCA - Teatro da Universidade Católica e da Livraria Cortez (www.pucsp.br/pos/cos/simposionacional). O Simpósio abrigou, portanto, como nascente, o que, sob o nome consensual de Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber), já se punha para além de simples semente e cujos horizontes consequentes foram e serão coletivamente esculpidos nos próximos anos.

Trata-se de momento singular, como todo momento liminar e fundador, em prol do esclarecimento público a respeito das características, dramas e possibilidades da vida humana na fase digital de sua trajetória histórica.

Palavras-chave – Cibercultura, comunicação, associação nacional, pesquisa científica, interdisciplinaridade.

OS PILARES ESTRUTURAIS DAS COMUNICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Othon Jambeiro (UFBA)

Resumo – Nos anos finais do século XX, a fusão de concomitantes e bruscos movimentos na configuração da economia, da ideologia e da política, no plano internacional (sendo a queda do muro de Berlim o mais simbólico deles), com avanços rápidos e de grande alcance estrutural, no desenvolvimento científico e tecnológico (a Internet sendo o mais significativo e provavelmente o de repercussão mais duradoura), teve impacto profundo na compreensão dos fenômenos direta ou indiretamente vinculados à comunicação. Acirrou-se, na área, a constituição de grupos econômicos com atuação integrada, vertical e horizontalmente, por processos produtivos fragmentados, porém economicamente racionalizados; o estabelecimento de estratégias industriais, comerciais e financeiras, a partir do conceito do mundo como mercado global; a consequente compreensão dos seres humanos dentro de um quadro referencial que privilegia seu papel econômico como consumidores, integrantes de uma engrenagem global de oferta e demanda de produtos materiais e simbólicos de informação e comunicação; a expansão e consolidação da democracia liberal representativa como norma de conduta padrão compulsória, sob vigilância de entidades supranacionais (e mesmo, eventualmente, nacionais), com alto poder de coerção militar, moral, financeira e comercial; e o incessante movimento de criação tecnológica, fantasticamente ampliado com a inserção de milhões de pessoas em seus processos, notadamente no que diz respeito ao desenvolvimento de softwares, aplicados a hardwares da mais variada natureza. Tudo isso representa um colossal conjunto interativo e agregador de interesses comunicacionais e informacionais de indivíduos isoladamente, grupos de referência distintos, comunidades, autoproclamadas neotribos de real ou imaginário caráter antropológico, nações e países.

O texto tem como objetivo argumentar sobre a constatação de que, no plano da comunicação, a base na qual se movimentam esses atores – e o principal condicionante de sua atuação – é uma infraestrutura de três pilares: um, tecnológico, constituído pelo sistema de telecomunicações, a indústria eletroeletrônica e a Informática, do qual derivam unidades e serviços de comunicação; outro, político, constituído pelas políticas de informação e comunicação, de desenvolvimento científico e tecnológico, de Cultura e de Educação, que balizam a ação do Estado e interagem com as estratégias de crescimento das empresas do setor; e um terceiro, legal, constituído pelos regulamentos nacionais, internacionais e supranacionais, vinculados àquelas políticas, que estabelecem limites econômicos, morais, ideológicos e culturais à ação dos atores envolvidos. Hoje completamente interligados e interdependentes, esses pilares são, ao mesmo tempo, base e partes constitutivas do que se denomina, genericamente, Sociedade da Informação, dentro da qual germina a chamada cibercultura.

Palavras-chave – Cibercultura, Sociedade da Informação, infraestrutura da comunicação, políticas de comunicação e informação, regulação das comunicações.

APONTAMENTOS SOBRE A NOÇÃO DE “DEMOCRATIZAÇÃO DA INTERNET”
Edilson Cazeloto (UNIP)

Resumo – O artigo se propõe a desmitificar a ideia de democracia vinculada à propagação das redes telemáticas na cibercultura, a partir da construção histórica de um ideal ético democrático que sirva como parâmetro de análise. Tendo a crítica teórica como pressuposto, o texto busca demonstrar que a noção de democracia funciona, no contexto mencionado, como um significante vazio, diante do qual se consolida uma prática hegemônica de fechamento parcial de sentido, favorável ao esvaziamento da dimensão transformadora do conceito de democracia.

Palavras-chave – Internet, democracia, significante vazio.

CIBERCULTURA E CONTEMPORANEIDADE: EMISSÃO, CONEXÃO, RECONFIGURAÇÃO
André Lemos (UFBA)

Resumo – Para melhor compreensão da forma como opera a recombinação dos diversos elementos em jogo hoje na cultura contemporânea – que alguns vão chamar de sociedade da informação, sociedade pós-industrial, cibercultura ou sociedade do conhecimento –, estabelecerei três princípios básicos ou três leis dessa sociedade da informação, principalmente em relação às práticas culturais, retomadas ao final do texto. Esses três princípios norteadores permitem, de forma geral, compreender a emergência das diversas práticas sociais, comunicacionais e produtivas que criam diversas e inusitadas recombinações na cultura contemporânea. A cibercultura é, por assim dizer, um “território recombinante”. Iremos explorar a “cibercultura remix”, os princípios da sociedade da informação e a noção de território para chegar, no final, à hipótese da criação de territórios informacionais, hoje em expansão com as tecnologias de comunicação sem fio. Estas irão fomentar novas práticas recombinatórias nas cidades contemporâneas.

Palavras-chave – Comunicação, cibercultura, recombinação.

CIBERCULTURA: UM NOVO SABER OU UMA NOVA VIVÊNCIA?
Elizabeth Saad Correa (USP)

Resumo – O texto aborda o impacto da cibercultura no cotidiano de nossa sociedade, partindo de uma breve revisão histórica do entranhamento da comunicação com tecnologias e chegando até o advento e utilização global das TICs. Entendemos, com isso, que o cotidiano das pessoas – em maior ou menor grau de acesso –, passa a incorporar uma série de aparatos tecnológicos “impostos” para a vida em sociedade. À medida que os indivíduos passam a se comunicar (e também se divertir, trabalhar, estudar) de forma assídua através de aparatos digitais, conectados em rede, seu cotidiano vai, cada vez mais, se transferindo para um ESPAÇO coletivo e intangível para a realização de mediações, trocas e transações. Nesse espaço, percebe-se que as fontes emissoras ficam muito impessoais, quase não-identificáveis; que existe pouca diferença entre emissor e receptor e que o próprio corpo se transforma numa senha pessoal e intransferível. Tomaremos como pressupostos que as formas de sociabilidade têm estreita e indissolúvel relação com os processos de comunicação do homem; e que, quando tais processos ocorrem através de ambientes mediados por TIC’s, estamos vivenciando uma manifestação “cibercultural”. Trataremos das diferenciações conceituais entre ciberespaço e cibercultura, do imaginário e das práticas comunicacionais nesse âmbito e do imaginário que se configura no cenário de uma futura era pós-digital.

Palavras-chave – Cibercultura, práticas comunicacionais, imaginário cibercultural.

IMAGENS DA IRREALIDADE ESPETACULAR
Juremir Machado da Silva (PUCRS)

Resumo – O texto examina a relação entre realidade e imaginário. Toma a realidade como uma entidade tão sólida quanto um cubo de gelo. Dela, só existem imagens e aproximações sucessivas. Flagrantes de um eterno movimento em espiral. Evaporações constantes em nome da estabilidade. O real é um estado intermediário entre dois picos de entropia. A grande magia do real consiste em simular o que não é: uma verdade absolutamente externa ao observador. O real objetivo sempre depende de uma adesão ou de uma crença. Toda realidade é uma construção social recortada pelo trajeto individual. Se essa afirmação pode parecer excessiva, é possível dizer que, ressalvadas as "realidades primárias", todo o resto passa por um longo processo de objetivação e de sedimentação.

Palavras-chave – Comunicação, realidade, imaginário.

POR UMA GENEALOGIA DA EXPERIÊNCIA DE IMERSÃO TECNOLÓGICA: PERCEPÇÃO E IMAGEM DO SÉCULO XVII AO SÉCULO XIX
Maria Cristina Franco Ferraz (UFF)

Resumo – Para se dimensionar com maior rigor e precisão as efetivas alterações do estatuto da imagem, vinculadas às novas tecnologias digitais, bem como as mudanças no âmbito da subjetividade em curso na cibercultura, faz-se necessário retornar ao século XIX e, em especial, à virada do século XIX ao XX, momento em que é produzido um conceito de imagem que responde à experiência moderna de desrealização do mundo. Retomando as recentes teses de Jonathan Crary acerca do processo de modernização da percepção, podemos observar a emergência de um novo modelo epistemológico e regime óptico ao longo do século XIX, no qual a imagem deixa de estar ancorada em uma física dos raios luminosos e em uma lógica da representação para passar a ser efeito de um corpo vivo, cambiante, a ser esquadrinhado pelas novas ciências empíricas e humanas e controlado por práticas disciplinares. Do olho-lente prevalecente nos séculos XVII e XVIII passa-se então à opacidade de um olho fisiologicamente constituído, apto a produzir imagens na ausência de qualquer estímulo exterior (pós-imagens, imagens entópticas). O processo de modernização da percepção está implicado no desenvolvimento de uma nova cultura de imagens, no surgimento de novos regimes de “espectatorialidade”, em suma, na consolidação do processo de industrialização dos regimes de contemplação. Tal processo foi catapultado a uma de suas expressões mais instigantes e radicais tanto na sociologia de Gabriel Tarde, quanto no conceito bergsoniano de imagem, na última década do século XIX. A partir da discussão desse processo, em suas implicações no que concerne à imagem, à percepção e à subjetividade, são levantadas hipóteses acerca das transformações do estatuto da imagem na contemporaneidade, em função de processos de digitalização e informatização, bem como em suas possíveis implicações sobre os modos com que tendem a se configurar novas inflexões na subjetividade.

Palavras-chave – Imagem, modernização da percepção, genealogia da cibercultura, subjetividade contemporânea.

O ESPAÇO LÍQUIDO
Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-SP)

Resumo – Inserido no âmbito de um projeto de pesquisa mais amplo, que tem como objeto a unidade espaço/visualidade/comunicação, o artigo estuda as dimensões semióticas do espaço como elemento agenciador da cibercultura e interferente na dinâmica dos seus fluxos globais e locais. Neste sentido, o trabalho se divide em dois grandes eixos: (1) o estudo das materialidades do tempo na construção de uma intuição e de um conceito de espaço que nos levará ao resgate das sementes do tempo histórico no espaço geográfico; e (2) o estudo das construções do tempo desenhadas pelos fluxos de um espaço digital e a emergência de uma cultura e de um imaginário social que estão na base de outras e novas relações comunicativas. Percorrer essa unidade tempo-espaço delineia-se como estratégia de reflexão para traçar as raízes e as projeções da cibercultura e para caracterizar o conceito de topocronia, homólogo ao conceito de cronotopia, já estudado por Baktin.

Palavras-chave – Tempo, espaço, cultura , cibercultura, cronotopos.

OS ESPAÇOS PERCEPTIVOS NOS QUAIS INTERAGIMOS
Yara Rondon Guasque Araujo (UESC)

Resumo – As pesquisas da telepresença e da realidade virtual (VR), como interações mediadas pelo computador, são vinculadas às palavras-chave “real” e “virtual”. A reflexão sobre nosso agir no ambiente físico circundante, no distante através das telecomunicações e no modelado artificialmente, força-nos a distinguir a presença entre a experiência interiorizada e a experiência exteriorizada, o que nos conduz enganosamente a identificar a primeira como endorrealidade e a segunda como exorrealidade. Os espaços perceptivos nos quais interagimos nos convidam a refletir sobre as fronteiras entre ilusão e percepção.

Palavras-chave
– Telepresença, realidade virtual, ilusão, percepção.

EDUCAÇÃO PRESENCIAL E ONLINE: SUGESTÕES DE INTERATIVIDADE NA CIBERCULTURA
Marco Silva (UERJ – UNESA)

Resumo – A sala de aula presencial e online encontra-se ainda centrada no modelo de distribuição unidirecional da informação, que prevalece nos media de massa, quando a oferta de comunicação multimídia é cada vez maior e melhor no ambiente comunicacional redefinido pelas disposições interativas do computador e da internet. Essa defasagem da escola e da Universidade não será solucionada apenas com a inclusão de mais computadores conectados ao ciberespaço. O essencial e urgente é uma pedagogia baseada na comunicação que não separa emissão e recepção e na construção do conhecimento a partir da elaboração colaborativa.

O texto trata dessa pedagogia a partir do conceito complexo de interatividade, entendido como superação da lógica da transmissão historicamente consolidada, em favor da lógica da comunicação própria da cibercultura.

Palavras-chave – Educação presencial e online, cibercultura, interatividade.

O FIM DO ESTILO NA CULTURA PÓS-HUMANA
Lucia Santaella (PUC-SP)

Resumo – A proposta do trabalho é colocar em discussão, tanto no contexto pós-moderno quanto pós-humano, a concepção relativamente consensual de estilo como marcas deixadas na linguagem por um talento individual. Para isso, em primeiro lugar, a noção de estilo, não só no seu aspecto individual, mas também histórico, é revista à luz das categorias semióticas. Em seguida, os conceitos de pós-moderno e pós-humano são distinguidos para a análise das transformações que cada uma dessas condições específicas, a pós-moderna e a pós-humana, impõe sobre o estilo.

Palavras-chave – Estilo, talento, estereótipo, pós-modernidade, pós-humano.

PLATAFORMAS DE MÚSICA ONLINE: PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO E CONSUMO ATRAVÉS DOS PERFIS
Adriana Amaral (UTP)

Resumo – O artigo analisa as práticas de consumo e o conteúdo musical gerado nas plataformas sociais de distribuição, classificação, recomendação e divulgação de música na Web. Num primeiro momento, levantamos um histórico conceitual no qual discutimos as definições e características desses sites de redes sociais. Posteriormente, descrevemos essas características e fluxos comunicacionais nas práticas dos usuários a partir de uma observação inicial comparativa entre as plataformas Last.fm, MySpace e Blip.fm. Consideramos a emergência de algumas categorias de análise, a saber: o papel das recomendações e das classificações dos gêneros musicais no Last.fm; o caráter de consciência sobre a audiência segmentada no MySpace; e a constituição de uma reputação por microconteúdos musicais no Blip.fm.

Palavras-chave – Plataformas de música online, consumo, redes sociais.

GAME “COZINHEIRO DAS ALMAS”: BREVES RELATOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
Gilberto Prado (USP)

Resumo – A partir do livro "O perfeito cozinheiro das almas deste mundo", diário da garçonnière mantido por Oswald de Andrade entre 1918 e 1919, o Grupo de Pesquisa em Poéticas Digitais da ECA-USP iniciou o desenvolvimento de um videogame no qual o personagem principal se perde na São Paulo de 1918 e visita interativamente vários ambientes nos quais vai aos poucos descobrindo a trama. O texto apresenta algumas fases do processo de construção e realização do game.

Palavras-chave – Instalação interativa, game, artemídia, novas mídias, arte digital.