EDUCAÇÃO PRESENCIAL E ONLINE:
SUGESTÕES DE INTERATIVIDADE NA CIBERCULTURA1 Marco Silva Finalmente, o dispositivo interativo, ao suspender a lógica audiovisual (os media de |
I – INTRODUÇÃO
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II – O DESAFIO DE EDUCAR NA CIBERCULTURA
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Os professores e as professoras estão cada vez mais compelidos à utilização de novas tecnologias de informação e de comunicação, mas permanecem pouco atentos à necessidade de modificar a sala de aula centrada na pedagogia da transmissão. Nem sempre as soluções encontradas significam salto qualitativo em educação. Afinal, o essencial não é apenas a tecnologia, mas novas estratégias pedagógicas capazes de comunicar e educar em nosso tempo.
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III – A CULTURA DA TRANSMISSÃO PERDE TERRENO
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IV – PERSPECTIVAS PARA UMA DOCÊNCIA INTERATIVA PRESENCIAL E ONLINE
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Essa concepção de arte (ou “antiarte”, como preferia Oiticica), inconcebível fora da perspectiva da coautoria, tem algo a sugerir aos professores. Eles propõem a aprendizagem na mesma perspectiva da coautoria que caracteriza o parangolé. Propõem o conhecimento, não o transmitem. Não o oferecem a distância para a recepção audiovisual ou “bancária” (sedentária, passiva), como criticava o educador Paulo Freire (1996).
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O docente propõe o conhecimento à maneira do hipertexto. Assim redimensiona a sua autoria. Não mais a prevalência do falar-ditar, da distribuição de informação, mas a perspectiva da proposição complexa do conhecimento à participação colaborativa dos participantes, dos atores da comunicação e da aprendizagem. Ele pode construir sua docência interativa inspirada no parangolé de Oiticica. Para isso, precisará modificar seus métodos de ensinar baseados na transmissão e memorização. E, para tanto, será preciso atentar para alguns princípios básicos (SILVA, 2005, p. 280):
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V – CONCLUSÕES EM FAVOR DA DOCÊNCIA SINTONIZADA COM O DIGITAL E O CURRÍCULO
O capital social pode ser dinamizado a partir de um “Portal da Cidade” com diversas informações sobre Ongs, implementação de fóruns de debates, livres ou induzidos, por regiões, áreas de chats, propiciar a transparência informativa, disponibilizar serviços online e informações que incentivem a participação política do cidadão; deve-se também incentivar a construção de telecentros em instituições e centros comunitários, com terminais de livre acesso, e-mail grátis para todos, buscando lutar contra a exclusão digital. O objetivo é colocar os grupos sociais e indivíduos em sinergia, utilizando o potencial do ciberespaço como vetor de agregação social. (Lemos, 2004, p. 24).A inclusão digital passa, portanto, por mobilizações nesse sentido e não meramente pela distribuição da conectividade. Eis aqui o compromisso que se agrega ao papel essencial da educação. Certamente, os professores precisarão ser formados nestes termos para ultrapassarem a utilização instrumental do computador e da internet, pois precisarão dar o exemplo eloquente na sala de aula presencial e online do sentido mais amplo da inclusão ou da alfabetização digital. No entanto, o uso do computador e da internet entre professores ainda é baixo. Isso quer dizer que muitos ainda estão aquém do nível mais elementar da inclusão digital. Essa primeira etapa terá de ser vencida de início. Em seguida, os professores deverão cuidar da sua formação técnica para lidar com as tecnologias digitais, bem como aprender a fazer da interatividade participação, colaboração, conhecimento e cidadania. A inclusão digital dos professores, entendida para além no mero acesso ao computador e à internet, deverá contemplar o aprendizado com o movimento contemporâneo do digital, o que traz implicações específicas para o tratamento do currículo, uma vez que ele [...] não é veículo de algo a ser transmitido e passivamente absorvido, mas o terreno em que ativamente se criará e produzirá cultura. O currículo é, assim, um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação e, sobretudo, de contestação e transgressão. (MOREIRA; SILVA, 1995, p. 28).Esta abordagem do currículo pode corroborar o entendimento profundo do digital e vice-versa. O digital diz respeito à existência imaterial e, portanto, plástica, das imagens, vídeos, sons, textos que, na memória hipertextual do computador, são definidos matematicamente e processados por algoritmos, que são conceitos científicos operacionalizados como disposição para múltiplas intervenções-navegações da parte da autoria do usuário. Ou seja, conteúdos de aprendizagem digitalizados como imagens, vídeos, sons, textos são campos de possibilidades e não conhecimentos fechados. E, por não terem materialidade fixa, podem ser manipulados infinitamente, dependendo, unicamente, de decisões que o usuário toma ao lidar com seus periféricos de operatividade, como mouse, tela tátil, joystick, teclado etc. O currículo, por sua vez, [...] é uma construção de atores e atrizes educativos de natureza ideológica, plural e encarnada. Dessa forma é histórico e contextualizado. Constitui um processo identitário das práticas educativas de uma instituição, em meio à diversidade das suas relações. É um processo de socialização dialógica e dialética, constitui-se, portanto, na interação. (Macedo, 2000, p. 43).Assim concebido, supõe a postura de autoria criativa e colaborativa dos professores e dos aprendizes, que podem aprender esta dinâmica com o próprio digital. Aprender com o digital é, portanto, o mais recente desafio para os professores e, ao mesmo tempo, essencial para a sua inclusão na cibercultura e para sua apropriação crítica do currículo capaz de sustentar a educação cidadã. A escola e a universidade que não se prepararam para lidar com a televisão, têm agora e doravante o desafio do digital ou da interatividade. Isto é, os conteúdos de aprendizagem digitalizados plásticos, fluidos, abertos a constantes modificações, desprovidos de essência estável, supõem uma nova dimensão comunicacional diferenciada daquela que caracteriza o conteúdo fechado irradiado pela tela da TV. A primeira define-se como campo de possibilidades diante da intervenção do usuário; a segunda é estática (mesmo sendo móvel, fragmentária) e apresenta-se como transmissão que separa emissão e recepção. Portanto, é na comunicação interativa que os professores poderão aprender com o movimento contemporâneo do digital e ousar na reinvenção da docência na cibercultura. Aquilo que define o digital como peculiar disposição comunicacional é precisamente a condição de campo aberto de possibilidades diante do gesto instaurador do usuário criativo e colaborativo. E, enquanto paradigma que sustenta o movimento contemporâneo das tecnologias comunicacionais, o digital é o fundamento modelador do novo ambiente comunicacional. Portanto, aprender com as tecnologias digitais e com a chamada “web 2.0”, centrada na autoria do internauta, é antes de tudo aprender com a nova modalidade comunicacional, é aprender que comunicar não é simplesmente transmitir, mas disponibilizar múltiplas disposições abertas à autoria do interlocutor. A comunicação só se realiza mediante sua participação, colaboração, cocriação. Tudo isso é fundamentação essencial para a inclusão digital dos docentes e dos aprendizes e para a redefinição do currículo e da educação cidadã em nosso tempo. |
Referências
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1 Texto egresso da argumentação apresentada no I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e Cibercultura, organizado pelo CENCIB - Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação e Cibercultura da PUC-SP e realizado nesta Universidade, em setembro de 2006. O artigo foi publicado em Dias et. al. (Org.), O digital e o currículo, Braga, Portugal, Universidade do Minho, 2009, p. 11-30.
2 “Ao retirar a informação do mundo analógico – o mundo ‘real’, compreensível e palpável para os seres humanos – e transportá-la para o mundo digital, nós a tornamos infinitamente modificável. [...] nós a transportamos para um meio que é infinita e facilmente manipulável. Estamos aptos a, de um só golpe, transformar a informação livremente – o que quer que ela represente no mundo real – de quase todas as maneiras que desejarmos e podemos fazê-lo rápida, simples e perfeitamente. [...] Em particular, considero a significação da mídia digital sendo manipulável no ponto da transmissão porque ela sugere nada menos que um novo e sem precedente paradigma para a edição e distribuição na mídia. O fato de as mídias digitais serem manipuláveis no momento da transmissão significa algo realmente extraordinário: usuários da mídia podem dar forma a sua própria prática. Isso significa que informação manipulável pode ser informação interativa” (Feldman, 1997, p. 4). 3 A expressão “corrente participacionista” serve a Couchot (1997, p. 136) para distinguir a vanguarda na arte dos anos 1960 daquilo que ele chama de “interatividade numérica” permitida pelo computador, com seus bits matemáticos processando em sua memória hipertextual toda sorte de manipulações. Couchot está ciente de que “depois da primeira metade do século, manifestou-se pouco a pouco uma corrente de ideias que tentou introduzir uma relação mais imediata com o público”. O objetivo daquela corrente “era fazer o espectador participar na própria elaboração das obras de arte. Fazê-lo partilhar, assim, do tempo da criação. [...] A forma mais simples da participação foi a instalação. Instalando o espectador no centro da obra, o artista o convidava a adotar uma atitude diferente diante dela. A instalação foi um modo muito usado, adotado tanto pela arte pop, quanto pela arte conceitual ou outras tendências. [...] é o corpo inteiro do observador e não mais somente o seu olhar que se inscreve na obra, que ganha extensão. [...] As obras são sensíveis às diferentes solicitações, manipulações, operações, desencadeadas pelos deslocamentos do observador, seu contato, o som de sua voz, sua presença, seu calor, o barulho de seu coração, etc. Pode-se então falar de participação real e não mais mental. [...] A obra não é mais fechada sobre si mesma, fixa no seu acabamento, ela se ‘abre’. O tempo da criação da obra e o tempo em que ela se dá a ver – o tempo de sua socialização – tendem a se sincronizar.” 4 Nildo da Mangueira com “Parangolé” criado pelo artista plástico brasileiro Hélio Oiticica em 1964. Foto de Andreas Valentin. |