Desde a chegada da internet novas tecnologias, dispositivos e ferramentas surgiram no ambiente digital criando novas práticas e ressignificando outras. Neste ano, com a Pandemia da Covid-19, aconteceram mais mudanças nas práticas, desde as culturais até as econômicas, políticas, educacionais e sociais. Todo esse cenário de transformações também perpassa as pesquisas científicas, sobretudo na área da comunicação com as pesquisas na internet e redes sociais. Embora haja 25 anos desde que os primeiros estudos sobre jornalismo e internet surgiram (SALAVERRÃA, 2019) ainda é frutífero investigações e reflexões à respeito do assunto, pois este caminho ainda está sendo trilhado, logo merece ser estudado continuamente.

É a partir desse contexto que é proposto o minicurso ”œRedes Sociais e Mídias Digitais: Possibilidades de Técnicas e Métodos de Pesquisa na Internet”. O intuito é apresentar aos participantes possíveis maneiras de analisar cientificamente conteúdos digitais como notícias / comentários e seus processos de construção a partir de algumas técnicas de coleta de dados e metodologias científicas. Para isso o conteúdo programático conforme ilustra o Quadro 1 engloba quatro temas: Definição de Redes Sociais e Mídias Digitais; Definição de Técnicas e Métodos de Pesquisa; Técnicas que podem ser aplicadas em estudos de internet e Metodologias Científicas que podem ser aplicadas em estudos de internet.

A primeira parte do minicurso vai tratar sobre a Definição de Redes Sociais e Mídias Digitais a partir dos pensamentos de Recuero (2010) e Martino (2015). O objetivo é iniciar o minicurso apresentando as características das Redes Sociais e Mídias Digitais e no que elas se diferem. Recuero (2010) explica que redes sociais são metáforas criadas para se referir a grupos sociais e que mídias sociais englobam um conjunto de dinâmicas da rede social. Essas dinâmicas podem ser desde a criação de conteúdo, difusão de informação e trocas dentro dos grupos sociais estabelecidos nas plataformas on-line (como sites de rede social), que caracterizam o que se chama hoje de mídia social.

A definição de rede social é dada como um conjunto formado por dois elementos básicos: atores e suas conexões. O primeiro elemento são as pessoas, instituições ou, como Recuero (2010) chama, os ”œnós da rede”. Já as conexões são compreendidas como as interações ou os laços sociais. Assim, uma rede é tida como uma metáfora que tem como objetivo a observação de padrões de conexão que são estabelecidos entre os atores do processo social. Martino (2015) acrescenta que algumas das características básicas de uma rede social têm a ver com a dinâmica e flexibilidade. A dinâmica entre seus participantes refere-se à forma de interação entre eles que pode ser o movimento existente em uma rede, como a quantidade e o tipo de conexões estabelecidas entre os participantes ou o fluxo de pessoas que entra e deixa a rede.  Já a flexibilidade tem a ver com os vínculos criados que podem ser transformados a qualquer momento por serem  fluidos e  rápidos (MARTINO, 2015).

Dando continuidade ao minicurso, será apresentado o segundo tema que aborda a Definição de Técnicas e Métodos de Pesquisa a partir do pensamento de Lakatos e Marconi (2011). O objetivo é fazer com que os participantes compreendam o que são Técnicas de pesquisa e Métodos, expressões que muitas vezes que geram dúvidas. Os autores citados explicam que método é ”œo conjunto das atividades sistemáticas e racionais que (...) permite alcançar o objetivo (...) traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista” (LAKATOS E MARCONI, 2011, p.82). Já técnica é um conjunto de preceitos ou processos, enfim a parte prática, que a ciência ou arte utiliza para chegar a seus propósitos.

A terceira parte do minicurso traz exemplos de Técnicas que podem ser aplicadas em estudos de internet. Aqui serão citadas três técnicas: observação, entrevista e questionário a partir dos ensinamentos de Barros e Duarte (2008) e Lakatos e Marconi (2011). De acordo com Lakatos e Marconi (2011) a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações que consiste em ver, ouvir e examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. Dentre os tipos de observação, existe a observação participante em que o pesquisador se incorpora a algum grupo ou comunidade participando das atividades do grupo como se fizesse parte dele. A observação pode ser feita, por exemplo, quando se quer entender como ocorre o processo noticioso de um veículo jornalístico e o pesquisador acompanha a rotina do jornalista.

A entrevista tem como objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. Serve para averiguar fatos, determinar opiniões sobre fatos, sentimentos, opiniões, condutas, motivações, etc. (LAKATOS E MARCONI, 2011). A entrevista pode ser feita, por exemplo, com jornalistas quando se quer saber como é sua rotina produtiva.

Geralmente o questionário é aplicado em pesquisas de opinião ou survey e possibilita a coleta de vasta quantidade de dados originados de grande número de entrevistados no qual ”œas perguntas devem seguir uma sequencia lógica de encadeamento de raciocínio” (BARROS E DUARTE, 2008, p. 169). Algumas das vantagens é a viabilidade de realização de análise estatísticas de variáveis como dados sociodemográficos, de atitude, etc. O questionário pode ser feito, por exemplo, sobre os usos e praticas que as pessoas fazem das redes sociais.

A última parte do minicurso vai trazer três exemplos de Metodologias Científicas que podem ser aplicadas em estudos de internet. Muitas são essas metodologias nos estudos de comunicação, mas devido ao tempo de duração do minicurso e também por ser uma atividade cujo objetivo central é servir como possível guia de pesquisas na internet, isto é, mostrar possibilidades, então serão destacadas três metodologias: a  Análise de Conteúdo ( AC), Análise de Discurso (AD) e a Análise Crítica  da Narrativa (ACN).

Análise de Conteúdo

A AC um método que envolve, por meio de procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitem fazer deduções lógicas e justificadas relacionadas à origem e às condições de produção e/ou recepção dessas mensagens (BARDIN, 1977). É possível fazer AC, por exemplo, de uma reportagem que fala sobre consumo e mídia.

Análise de Discursos

A AD de linha francesa entende que todo discurso é uma construção social a qual reflete uma visão de mundo, logo gerador de sentidos. Portanto, deve ser analisado de acordo com seu contexto histórico-social e suas condições de produção (PINTO, 1999). De acordo com Orlandi (2013), pode ser definido como o ”œefeito de sentidos entre locutores. A AD pode ser usada, por exemplo, para analisar os discursos de ódios expressos nos comentários nas redes sociais de um veículo jornalístico.

Análise Crítica da Narrativa

A ACN entende o texto jornalístico como gênero narrativo construtor de significados e procura identificar quais efeitos de sentido foram produzidos nas narrativas (MOTTA, 2013). Narrativas essas entendidas como construções discursivas sobre a realidade humana.  A ACN pode ser usada, por exemplo, para analisar a cobertura jornalística de um portal de notícias sobre a pandemia da Covid-19.

Diante da dinâmica descrita, a exposição do minicurso será por meio de slides no Power Point, no formato ao vivo, respeitando a duração de 1 hora conforme as normas do evento. O ideal é que o minicurso contenha de 10 a 20 participantes para que nos últimos 10 minutos as dúvidas dos participantes, caso existam, possam ser esclarecidas.  O minicurso conterá um material de apoio para ser enviado aos participantes antes da data de sua realização. Este material de apoio contará com o cronograma do minicurso e com dicas bibliográficas para leituras posteriores.