PROJETO DE LEITURA 2021: MERGULHO” 1: Reflexões da Pandemia
Resumo
“PROJETO DE LEITURA 2021: MERGULHO” 1: Reflexões da Pandemia
Denise Mendes de Souza Gonçalves 2 Frederico Braida Rodrigues de Paula3 Jhonatan Alves Pereira Mata4
Este artigo discute os espaços de formação de saberes e a mudança da prática escolar remota em tempos de pandemia através da prática pedagógica da “Oficina de Música: teoria, teclado, violão e voz” realizada dentro “Projeto de Leitura 2021: Mergulho”. O livro de imagens “Mergulho”, do autor Luciano Tasso, foi escolhido pela escola municipal de Juiz de fora “Centro de Educação Doutor Geraldo Moutinho (CEM)”, para ser trabalhado interdisciplinarmente com os alunos, incluindo as oficinas as quais a escola oferece. Neste sentido, centrou-se na leitura do mundo (FREIRE, 2017), o questionamento das realidades que circunda a sociedade, as frustações sociais e novos contexto de emolduração e enquadramento do ensino e do aprendizado. Cañizal (2012) fala do papel desempenhado pela imagem cinematográfica e a função da moldura para a representação das coisas do mundo se darem por ritual poético “é necessário captar os
1Artigo apresentado no XV Simpósio Nacional da ABCiber no eixo temático n.3. Educação: Ambientes Virtuais no ensino-aprendizagem.
2Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora, mestra em Comunicação pela mesma universidade, atua como professora de Música/Violão na rede Municipal de Juiz de Fora. E-mail: 01394458622@estudante.ufjf.br.
3Doutor e Pós-doutor em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. E- mail: frederico.braida@arquitetura.ufjf.br.
4Doutor em Comunicação Ecopós-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)/Blanquerna School Barcelona. Professor Permanente no Programa de Pós- Graduação em Comunicação- PPGCom-UFJF Jornalista-Mestre em Comunicação- TAE-Universidade Federal de Juiz de Fora
Coordenador do Projeto "Música para olhos e ouvidos" (UFJF).Vice-Coordenador do NJA-Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (UFJF)E-mail: jhonatanmata@yahoo.com.br.
sentidos ocultos do outro lado dessas coisas; fazer, por exemplo, que uma árvore ou uma porta sejam muito mais do que simplesmente uma árvore e uma porta” (CAÑIZAL, 2012, p. 15,16).
O sentido dado por Cañizal ao enquadramento que se faz no cinema pode servir como ponte entre o que se pretendeu com o projeto citado acima ao criar espaços de reflexão deste novo tempo à formação do indivíduo digital (FAVA, 2016), dentro da presente instituição escolar, (CEM), para a interface entre atuação social, ao se analisar a integração da participação dos alunos em ambientes de redes de ensino e aprendizagem e a exigência de novos enquadramentos e uma emolduração totalmente diferente da sala de aula.
De acordo com Fava (2016), pensar as questões ambientais no âmbito da aprendizagem de forma global e integrada nos impulsiona a repensar os espaços diferenciados de aprendizagens escolares. Espaços modificados, os não lugares institucionais, a casa, qualquer lugar onde o discente e o docente estivesse auxiliado pela tecnologia da informação e da comunicação no ensino emergencial remoto devido ao isolamento social. Isolamento este, proposto ao mundo, devido a pandemia do COVID- 19 tornaram o campo do conhecimento e a formação de saberes, um desafio à toda a comunidade escolar.
O espaço físico escolar mudou-se para as telas do WhatsApp, Google Meet, onde alunos e professores se viram obrigados a realizar produções “cinematográficas” da vida real de cada um. Entretanto, havia uma limitação de emoldurações para a representatividade dos alunos em expressar a arte que construíam, bem como da expressão das professoras em construir novas aprendizagens para aguçar a participação efetiva dos alunos. Essa emolduração se assemelha a que Cañizal (2012) diz em relação as molduras douradas dos museus.
Leva-se em consideração a entrada da Educação Básica numa modalidade à distância e de caráter emergencial, momento em que a escola passou a encontrar a proeminente midiatização dos meios de comunicação. A prática do uso de tecnologias adentrou cada dia mais à vida de professores e alunos que nunca se viram frente ao desafio
de lidar com tantas inovações, medos, angústias e as incertezas daquele momento, do amanhã, do futuro e da educação no Brasil.
O crescente padrão de midiatização tencionou a empurrar à lógica das telas computacionais para a produção de novos espaços de pertencimento da formação do saber. Como Ferrara (2020) evidencia, em relação a midiatização, é que não é apenas este fator que cria troca de informação entre os espaços de formação, mas os planos culturais e sociais estabelecidos nestas trocas que promovem interpretação dessas informações e as diversidades. As trocas entre tecnologia e linguagem tornam-se capazes de fazer a diferença no entendimento das linguagens e a midiatização. A convergência promovida pela tecnologia e os dispositivos disponibilizados para o uso na vida das pessoas é parte desta aprendizagem, mas espaços de mediações, que também se convergiram e precisaram dialogar para a formação deste sujeito social.
As bases da atividade foram centradas no campo designado Educomunicação. Campo este que embasa o ensino através de tecnologias e métodos educacionais que ensinam na dimensão do aprender da leitura do mundo, a fim de aproximar o educando a reflexões práticas, a nível do entendimento da cultura e, dos aspectos que a envolvem. A educomunicação no espaço escolar traz à educação a possibilidade de análise social, pelo indivíduo em formação, com o entendimento de que os meios têm potenciais a explorar. Esta prática no Brasil, vem sendo implementada por organizações internacionais e nacionais, e desde a década de 90, com o conceito sistematizado pelo professor Soares (2014).
Relocar e reposicionar toda uma sociedade, uma reeducação com a tecnologia permeando não apenas disciplinas, mas toda a vida, foi o que a pandemia “pediu” da educação brasileira e do mundo, uma cura de dores e males nunca imaginados na história da humanidade.
Com o isolamento e a pandemia, a escola precisou se reinventar e aprender a lidar melhor com a comunicação do saber. Por uma nova didática, investimento e inovação, careceu a escola e ainda será uma surpresa o que vem após a pandemia, sendo preciso reestrutura e desprendimentos das antigas formas de comunicação no ambiente escolar.
O CEM, atende jovens e adultos, sempre prezou por práticas educomunicativas, mas, com a pandemia, também precisou se inovar e continuar a prática interdisciplinar proposta. Uma das iniciativas desta escola, dentre tantas outras, foi a volta do projeto de leitura em 2021 que dialogava com todas as disciplinas. Depois de 11 anos de efetiva presença no espaço físico escolar, este nunca deixou de ser feito, consecutivamente, mas, em 2020, não aconteceu devido ao ensino remoto e todas as adaptações as quais escola, professores, alunos e a própria rede municipal precisaram aprender a vivenciar.
O projeto de leitura em 2021, na oficina citada, continuou a identificar-se com a formação da cultura e o diálogo com a vida enquanto ela acontecia durante a pandemia. Firmou-se, ainda mais nas práticas pedagógica educomunicativa ao promover uma educação cidadã, a fim de que o educando identificasse o seu pertencimento com as culturas diversas e pudesse dialogar com o momento difícil do isolamento social. Além disso, o alunos despertou-se a compreender a própria identidade em um meio globalizado, midiatizado, de entender que culturas são híbridas (BRAIDA; NOJIMA, 2019) bem como a complexidade dos cidadãos híbridos (CANCLINI, 2019), mesmo num cenário político, econômico e social hostil como o vivenciado naquele momento. O aluno aprendeu a identificar problemas sociais crônicos, antes, fora do alcance. Tal posicionamento foi capaz de ir promovendo ao sujeito, participante do projeto, reelaborar qual a forma de atuação social neste século (CANCLINI, 2020) e desdobramentos da pandemia, do isolamento social e do ensino emergencial remoto.
Percebeu-se que o ensinar na perspectiva educomunicativa trouxe o potencial do entendimento de que há uma dinâmica da cultura latina a ser entendida pelo próprio cidadão latino-americano (CANCLINI , 2015), a fim de compreender o processo de dominação global e de própria formação de uma identidade com a cultura latina e o momento vivido. Com o uso dos meios de comunicação potencializando os saberes, tais discussões promoveram debates sobre como os próprios meios servem ou não ao sistema imposto pelo status quo dominante.
Discussões de como perceber também os modelos de consumo criados com a midiatização, a dinâmica política e social do isolamento, das dificuldades de cada aluno
e o quanto precisavam aprender sobre a potencial da tecnologia já existente, foram também desafios que o projeto teve que enfrentar. Assim, novos sentidos foram sendo traçados e novas formas a manter uma interface comunicativa com a estrutura do tipo de cidadão e a sociedade, tiveram que entrar em cena.
Este cenário marca uma transformação fundamental no modo como a Educação Básica Brasileira, neste caso específico de uma escola municipal pública, num exemplo de uma prática, lidou com as dificuldades da pandemia, mas conseguiu, em meio a todo o caos, resultados de podem ser frutos para novas aprendizagens.
Referências
BRAIDA, F.; NOJIMA, V. L. Manifestações da linguagem híbrida no design contemporâneo: fundamentos e aplicações. Rio de Janeiro (RJ): PUC Rio, 2019.
CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos culturais da globalização. 8. ed. Rio de Janeiro (RJ): UFRJ, 2015.
CANCLINI, N. G. Culturas híbridas. 4a ed. 8a reimpressão. São Paulo (SP) Editora da Universidade de São Paulo, 2019.
CANCLINI, N. G. Latino-americanos à procura de um lugar neste século. São Paulo (SP): Iluminuras, 2020.
CAÑIZAL. E. P. O texto fílmico entre a moldura e o enquadramento. Significação ano 39, n. 38, 2004.
FAVA, R. Educação para o século 21: a era do indivíduo digital. São Paulo (SP): Saraiva, 2016.
FERRARA, D. F. Comunicação, espaço, cultura. São Paulo (SP): Annablume, 2008. FERRARA, D. F. Espaços comunicantes. São Paulo (SP): Annablume, 2007.
BRAGA, J. L. Circuitos versus campos sociais. Mediação & Midiatização. Salvador: EDUFBA, 2012, p. 31-52.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 51. ed. São Paulo (SP): Cortez, 2017.
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SOARES, I. O. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação. São Paulo (SP): Paulinas, 2014.