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Articulação Comunitária na Favela em Enfrentamento à Desigualdade Social


 
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1. Título Título do documento Articulação Comunitária na Favela em Enfrentamento à Desigualdade Social
 
2. Autor Nome do Autor, afiliação institucional, país Laís Tiemi Saito; Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"; Brasil
 
2. Autor Nome do Autor, afiliação institucional, país Juarez Tadeu de Paula Xavier; Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"; Brasil
 
3. Assunto Área(s) do Conhecimento
 
3. Assunto Palavras-chave(s)
 
4. Descrição Resumo

As formas de comunicação mediadas pelas tecnologias digitais têm sido intermediárias inevitáveis nos relacionamentos interpessoais e culturais dos atores sociais no século XXI. O cenário socioeconômico de grande parte da população que está nas margens dos centros urbanos observados pela pesquisa é visivelmente desigual, um estudo da FGV (2021) mostra que durante a pandemia, houve um aumento de 42,11% de pessoas pobres no país de 2020 a 2021, afetando principalmente as mulheres e população negra, enquanto quem já era rico, ficou 30% mais bilionário, com o perfil majoritário de homens brancos na média de cinquenta anos (Forbes, 2022). Voltar o olhar para organizações vindas de movimentos sociais como a Cufa (Central Única das Favelas) com agentes que têm realizado trabalhos significativos nos lugares socioeconomicamente marginalizados é uma oportunidade de promover patamares mais justos e equivalentes de condições da vida, principalmente para pessoas em condição de vulnerabilidade social, habitantes das favelas cujas condições são de precariedade na qualidade de vida, de alimentação, recursos básicos como fornecimento de água e saneamento, transporte e acesso à internet.

Para entender os mecanismos de segregação territorial, volta-se para as abordagens interseccionais, que incluem principalmente as mulheres, mães negras no enfrentamento à desigualdade social. Objetiva-se aproximar as perspectivas de uso dos dispositivos tecnológicos para fortalecer relações que possam gerar mecanismos legais para atingir políticas públicas a partir de articulação em grupo e capacitação. Nomeando tecnologias sociais como procedimentos possibilitadores de transformar comunidades, pessoas e espaços, de acordo com suas demandas locais é um termo das bases conceituais, junto às tecnologias mundanas (Nemer, 2021), aquelas cotidianas, numa perspectiva hacker-fanoniana (Deivison, 2023), que significa de modo a ser disruptiva em relação aos parâmetros de uso das mídias digitais sujeitas aos interesses das big techs. Este contexto é apontado para se pensar a preponderância do uso das tecnologias no cunho da emancipação, para a autonomia individual e protagonismo coletivo, já que citar as grandes corporações donas das principais redes sociais, mecanismos algorítmicos, de pesquisas, inteligência artificial e softwares de dados e big data, se refere a um corporativismo dotado de grande capital, que lucra com investidores em publicidade.

Algumas indicações levam à ênfase das políticas para educação midiática, também chamada literacias, no sentido da formação do conhecimento para a busca de informações, manuseio das tecnologias, trajetórias formativas, produção criativa, circulação de saberes e geração de renda. Revisar os conceitos em volta de comunidades, estudar as tecnologias e as mídias resultantes das práticas críticas pode trazer a compreensão de exemplos sobre maneiras com uso ético e responsivo, que pode resultar no desenvolvimento local, ambiental e sociocultural. Como referência, são trazidos autores como Milton Santos (2018) e aspectos da globalização, Frantz Fanon (1965) e o viés da decolonização, Sueli Carneiro (2011) nas questões étnico-raciais, de gênero e classe, Maria Immacolata V. de Lopes (2003) para a pesquisa em comunicação, com a metodologia que percorre o alinhamento epistemológico, teórico, prático e metódico, David Nemer (2021) sobre o mundano digital nas favelas, Yuk Hui (2020) contextualizando tecnodiversidade, cosmotécnicas e cosmopolítica, Paulo Freire (2016) sobre círculos de cultura e pedagogias para a autonomia e Kunsch (2007) com estudos da comunicação comunitária para transformações com perspectivas dialógicas, embasam a estrutura conceitual e científica.

As formas de compreender os mecanismos de segregação refletidos na contemporaneidade e o que tem surgido como tecnologia social no enfrentamento à desigualdade, transformando positivamente as pessoas e os espaços de atuação é por meio da revisão bibliográfica, etnografia crítica, netnografia e entrevistas semi-estruturadas. A pesquisa está em fase preliminar e estão sendo coletadas as observações e entrevistas, mediante a aprovação do comitê de ética. Para atingir os objetivos, o cronograma prevê a observação etnográfica, netnográfica e entrevistas com agentes da Cufa, o movimento social e a organização da unidade de Heliópolis, em São Paulo, em paralelo à observação com atores sociais na periferia da cidade de Bauru, com foco na região Ferradura Mirim / Bom Sucesso.

Em interpretações da cultura, Geertz (1973) se refere à posição da ação humana no papel de observar, com base em estudos da antropologia para análises das práticas simbólicas nas ciências sociais, por meio de uma descrição densa, como descreve sendo “estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário” (Geertz, 1973, p.15), em suas palavras, buscando ver a cultura com uma ciência interpretativa, em busca do seu significado. O propósito com a netnografia é mapear os canais e formatos digitais na comunicação organizacional da Cufa, suas linguagens, para então analisar e descrevê-las. As entrevistas semi-estruturadas têm um roteiro pré-orientado para a escuta de falas que demonstrem as demandas sociais das pessoas envolvidas, as plataformas de usos comuns, mídias, processos e protocolos de ações expressivas de cunho comunitário.

Os dados preliminares apontam que o protagonismo cidadão crítico é um fator necessário para responder à precariedade instalada e permanente nos bairros mais pobres das cidades. Os saberes ligados entre pessoas que antes eram desconhecidas, mas passaram a se conectar em oportunidades criadas com o propósito de um diagnóstico local, podem ser pontes importantes para inovar em práticas cotidianas e indicações de soluções sistematizadas; ligados aos estudos acadêmicos, podem transformar em mapas conceituais que ampliam o conhecimento sobre as razões de suas realidades, com descobertas de direções possíveis para solucionar demandas emergenciais e de direitos. O avanço de políticas públicas que garantam os direitos prometidos na Constituição brasileira (BRASIL, 2016) pode dar resultados abrangentes para a população que mais necessita de apoio e impulso, como é a classe mais pobre. Até as necessidades chegarem a uma proposta elaborada como projeto de lei ou variações legais, requer muita discussão, diálogo e conhecimento sobre dispositivos e instrumentos que fazem as propostas circularem e chegarem até quem as encaminha nos formatos oficiais públicos.

Compreender as dinâmicas do presente requer rever as análises dos caminhos percorridos até chegar nessa determinada situação de segregação socioterritorial e desigualdade econômica. Ao identificar um problema, como a manutenção da pobreza, sem perspectivas ligeiras de ascensão das classes com renda baixa, direciona procurar entender as nuances que cercam estas realidades, a ciência social e geográfica. Ouvir os relatos das pessoas envolvidas no contexto, pressupõe elevar os saberes localizados nas circunstâncias de quem vive com os sinais da precariedade. Ligar o problema, os conceitos, ciências e saberes populares, vira uma maneira de poder chegar a possíveis soluções que sinalizem caminhos para o bem comum, em que o acesso às oportunidades de crescimento sejam facilitadas para jovens e adultos. Estes são os propósitos de conectar os pontos em uma análise de cenário com suas ameaças e necessidades, às oportunidades, com as capacidades e instrumentos disponíveis, a fim de promover planos estratégicos para causas socioculturais, que fortaleçam o sentido de colaboração a partir de diálogos e organização comunitária, que indiquem diretrizes para políticas públicas, acompanhem e concretizem estas que podem levar a novas práticas criativas, sustentáveis e solidárias em suas regiões de convivência cultural, com implicações políticas e econômicas.

A importância da organização coletiva e comunitária dialógica com uso de ferramentas digitais e formação continuada para o uso crítico e transformador das suas realidades frente à desigualdade social reforçada nos territórios periféricos é fundamental para criar oportunidades ausentes nos bairros urbanos.

 

Palavras-chave

Tecnologia social; Comunicação comunitária; Segregação; Desigualdade; Favelas.

 

Referências

BRASIL. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc95.htm Acesso em: 30 de maio de 2023.

 

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.

 

DEIVISON, Faustino. Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana / Deivison Faustino; Walter Lippold. São Paulo: Boitempo, 2023.

 

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Lisboa: Editora Ulisseia, 1965.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

 

FORBES. Os bilinários brasileiros de 2022. Disponível em: https://forbes.com.br/bilionarios-2022/2022/12/lista-forbes-de-bilionarios-brasileiros. Acesso em: 05 de julho de 2023.

 

FGV. Mapa da nova pobreza. 2022. Disponível em: https://cps.fgv.br/MapaNovaPobreza. Acesso em: 15 de junho de 2023.

 

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973

 

HUI, Yuk. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu Editora, 2020

 

KUNSCH, Margarida M. K. Sociedade civil, multicidadania e comunicação social. In: KUNSCH, M. e KUNSCH, W (Orgs.). Relações Públicas Comunitárias: a comunicação em uma perspectiva dialógica e transformadora. São Paulo: Summus, 2007.

 

LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. Pesquisa em comunicação. 7ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

 

NEMER, David. Tecnologia do Oprimido: desigualdade e o mundano digital nas favelas do Brasil. Vitória: Editora Milfontes, 2021.

 

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 28ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2018.

 
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7. Data (YYYY-MM-DD) 2023-12-05
 
8. Tipo Situação & gênero Documento avaliado pelos pares
 
8. Tipo Tipo
 
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10. Identificador Identificador Universal Único (URI) https://abciber.org.br/simposios/index.php/abciber/abciber16/paper/view/2134
 
11. Fonte Título da Revista/conferência; V. N. ano Simpósio Nacional da ABCiber (edições 2023, 2022, 2021, 2020, 2018); ABCIBER XVI - SIMPÓSIO NACIONAL DA ABCIBER 2023
 
12. Idioma Português=pt pt
 
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14. Cobertura Localização geográfica, cronológica, amostra (gênero, idade, etc.)
 
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