Última alteração: 2019-03-25
Resumo
O candidato à Presidência eleito, Jair Bolsonaro (PSL), fez das redes sociais o seu palanque de campanha. Com 9 milhões de seguidores no Facebook, ele divulgou suas opiniões pela rede. No segundo semestre de 2018, houve uma forte divisão entre os usuários que o apoiavam e os que não. Mesmo após a eleição, a polarização continuou, o que afetou o comportamento da audiência das notÃcias publicadas no Facebook pelo Jornal Nacional, o objeto da nossa pesquisa. O trabalho analisa os comentários das notÃcias usando três autores: Guy Debord, Christopher Lasch e Wolfgang Fritz Haug.
Foram considerados os comentários de uma das primeiras medidas do governo em 2019: as regras que facilitam a posse de arma no Brasil. Foi levado em conta o número de comentários e de compartilhamentos da notÃcia, quais as causas defendidas e como a polêmica extrapola a informação e vira pano de fundo para discussões entre os seguidores. Em um dos comentários, por exemplo, é dito que o governo Bolsonaro ”œjá teria feito mais em 15 dias do que o PT em 16 anos”. A partir disso, são dadas 32 respostas, onde vemos outros usuários brigando entre si, com a notÃcia ficando em segundo plano. Analisamos como a eleição polarizou as discussões nas redes sociais, como as reportagens que são relacionadas ao governo são mais comentadas que as outras na página do JN no Facebook e como até aquelas que nada têm a ver, como a previsão do tempo, podem ser ”œvítimas” dessa polarização, com comentários sem nenhuma relação com a notÃcia original.
Com Debord, vemos como o Facebook faz parte da sociedade do espetáculo, como esse mundo das representações esvazia experiências reais e verdades. Debord já falava da desinformação, a verdade como um m omento do falso, de produção de catástrofes. Lasch nos ajuda a entender os comentários nas notÃcias sob a ótica do medo do futuro e do equilÃbrio psÃquico. Ao optarem por um lado da disputa, os usuários da rede social transformaram-se em mercadoria e começaram a enxergar a si próprio por meio dos olhos dos outros. E Haug nos mostra como a aparência pode ser mais importante que a realidade. Como estamos em um sistema capitalista, a realidade nua e crua vira apenas um pretexto para entrarmos em um mundo de aparências. Assim, os comentários das notÃcias também podem ser entendidos como a aparência que os usuários querem mostrar, a imagem, mesmo que irreal, com a qual compactuam.