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ISSN : 2175-2389
Do Clássico ao Smartphone: Plataformas e Mídias Escolhidas para Busca e Consumo de Informações
LUCIANE PEREIRA VIANA, Dusan Schreiber, André Luciano Viana

Última alteração: 2024-07-02

Resumo


O cenário de busca e consumo por informação e atualização está em constante transformação, reflexos da “Sociedade em Rede” (CASTELLS, 2005) e da “Sociedade das Plataformas” (GILLESPIE, 2010; VAN DIJCK, POELL E WAAL, 2018). A ascensão da inteligência artificial generativa (GenAI) e ferramentas como o ChatGPT desafiam os métodos tradicionais de pesquisa. Estima-se que até 2026 a GenAI vai provocar queda de 25% no uso de motores de busca tradicionais (Google, Bing, entre outros), motivada pelo avanço da utilização de chatbots e assistentes virtuais com inteligência artificial (GARTNER, 2024).

Atualmente, o Google detém cerca de 90% do mercado mundial de buscadores (SOLLITTO e ALEJANDRO, 2022), contudo, a pesquisa por redes sociais ganhou espaço especialmente em algumas faixas etárias. TikTok, por exemplo, é usado por 40% da Geração Z como principal ferramenta de busca (MORENO, 2023; SOLLITTO E ALEJANDRO, 2022). “As plataformas, que antes se posicionavam apenas como entretenimento, hoje também são fonte de informação e consulta” (SACCHITIELLO, 2024). A crescente preferência do público jovem pelo TikTok como meio de pesquisa pode ser atribuída às características da plataforma, pois enquanto no Google as respostas tem foco em texto e links, no TikTok são vídeos curtos e diretos (SOLLITTO E ALEJANDRO, 2022). Todas essas transformações impõem novos desafios para as marcas e o marketing (GARTNER, 2024).

Segundo Monteiro (2024), os motores de busca lideram o share de investimentos publicitários no ambiente digital e representam a primeira onda da publicidade online. As redes sociais, por sua vez, são vistas como a segunda onda. Os marketplaces, em ascensão e considerados a terceira onda digital, ganham popularidade devido à capacidade de oferecer buscas rápidas de produtos, atendendo aos interesses econômicos dos consumidores que desejam comparar preços e ofertas, levando em conta avaliações e localização. A preferência por marketplaces é impulsionada pelo investimento das empresas em tecnologia e no uso de dados primários para melhorar a personalização e a segmentação de seu mercado (MONTEIRO, 2024).

E, finalmente, com o avanço da GenAI, os usuários são dispensados da tarefa da curadoria de informações em mecanismos de busca, marketplaces e redes sociais, pois as respostas são fornecidas por aplicativos como ChatGPT, Gemini, Siri e Alexa (GARTNER, 2024; MONTEIRO, 2024). Todavia, é possível observar que a IA não é ameaça aos demais mecanismos de buscas. Por exemplo, desde 2016 o Google tem incorporado IA em seu algoritmo. Agora, com a implementação do Gemini 1.5 Pro, o Google promete uma experiência de busca mais personalizada (TILIA, 2024). O buscador Bing também conta com a IA Copilot integrada nos resultados (MONTEIRO, 2024).

O referido contexto suscita as seguintes perguntas: Mesmo com o avanço das tecnologias digitais, os meios de comunicação clássicos como televisão, rádio e jornais ainda mantêm uma base de usuários? Quais os fatores importantes na escolha de plataformas e mídias de consumo de informações? Considerando o cenário descrito, o presente estudo tem como objetivo identificar as plataformas e mídias escolhidas pelos estudantes de gestão para busca e consumo de informações, bem como entender as razões dessa preferência. Essa compreensão pode revelar padrões importantes na maneira como futuros gestores acessam e consomem dados, impactando nas decisões e estratégias das marcas.

Neste estudo utilizou-se a pesquisa descritiva, qualitativa e survey (PRODANOV E FREITAS, 2013). A pesquisa bibliográfica está alicerçada em autores como Bauman, Castells, Canclini, Santaella, Silveira, Van Dijck, entre outros. O questionário foi aplicado com alunos de Administração de uma Faculdade no Rio Grande do Sul, que cursaram a disciplina de Pesquisa Mercadológica, durante os anos de 2022 e 2023. Foram realizadas duas perguntas: “1. Onde e como você busca informações/notícias?; 2. Justifique a escolha por esta plataforma/mídia.” Obteve-se 112 respostas. Para a análise qualitativa optou-se pela análise de conteúdo, segundo Bardin (2004), sendo obedecidas as fases de pré-análise, exploração do material, inferência e interpretação dos resultados.

Nas respostas, nota-se a existência de uma variedade de plataformas e meios de informação, incluindo mídias tradicionais (televisão 42%, rádio 15% e jornal impresso 5%) e mídias online. No online, as redes sociais lideram como principal meio, com 89% dos entrevistados utilizando-as para se informar. Os assistentes virtuais surgem como uma fonte de informação, de 75% dos entrevistados, neste item tem-se Alexa, Ok Google, Siri, Lu (Magalu) e o ChatGPT.

Em relação aos mecanismos de busca, foi citado somente o Google (15%). Sites especializados em notícias (60%), jornais online (52%), revistas online (14%), blogs específicos (13%) ou seja, plataformas que podem oferecer informações relevantes e atualizadas sobre temas específicos. Aplicativos de mensagens como o WhatsApp, citado por 21%, permitem a troca de informações, além da disseminação de notícias e conteúdos informativos. A própria Faculdade foi citada por 6% dos respondentes, contudo ninguém respondeu o consumo de repositórios acadêmicos (SciELO, Google Scholar e Periódicos CAPES, etc). No entanto, 4% dos respondentes indicaram que não buscam informações.

Rapidez, praticidade e agilidade foram as características mais mencionadas como razões para a preferência das plataformas/mídias. Canclini (2010), Rocha e Pereira (2009) destacam que o consumo transcende a mera aquisição de bens, englobando relações socioculturais que se estabelecem não apenas entre os consumidores, mas também com o ambiente ao seu redor. O consumo deve ser entendido como um fenômeno que tem o poder de conectar indivíduos, além de contribuir para a inclusão e a exclusão social. No entanto, mesmo com condições desiguais de acesso, é fato que as interações humanas estão cada vez mais sendo intermediadas por redes digitais (VAN DIJCK, 2013), “[...] formando uma  teia global de informação, conhecimento e partilha” (OLIVEIRA E ALMEIDA, 2016, p. 418).

Finalizam-se estas análises parciais, recordando Santaella (2023) que aponta que efeitos subsequentes nas coletas de informações com o uso do ChatGPT irão, sem dúvida, se fazer sentir. “O verniz de objetividade e a fluência da linguagem podem funcionar como um atrativo que fortalece a interação individualizada com a informação, criando a falsa ideia de que o conhecimento está disponibilizado de forma completa” (SANTAELLA, 2023, p. 8). Enfim, a pesquisa e o consumo de informações devem ser feitos de forma responsável, com foco na verificação da confiabilidade das fontes e na busca por diferentes perspectivas.

 

Palavras-chave

Consumo de informação; inteligência artificial generativa; assistentes virtuais; redes sociais; marketing de busca.


Referências

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.

CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 8. ed. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.

CASTELLS, M. A sociedade em rede: do conhecimento à política. In: CASTELLS, M.; CARDOSO, G. A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Acção Política. Belém/PA: Imprensa Nacional, 2005. p. 17-30.

GARTNER. Gartner Predicts Search Engine Volume Will Drop 25% by 2026, Due to AI Chatbots and Other Virtual Agents, Fev. 2024. Disponível em: https://www.gartner.com/en/newsroom/press-releases/2024-02-19-gartner-predicts-search-engine-volume-will-drop-25-percent-by-2026-due-to-ai-chatbots-and-other-virtual-agents. Acesso em: 10 Maio 2024.

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MONTEIRO, T. Como ascensão de buscas em redes e marketplaces mobiliza o search. Meio & Mensagem - Mídia, Maio 2024. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/midia/redes-sociais-marketplaces-em-busca. Acesso em: 24 Maio 2024.

MORENO, J. Para competir com TikTok, Google usa IA para atrair a Geração Z. Forbes Tech, Out. 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2023/10/para-competir-com-tiktok-google-usa-ia-para-atrair-a-geracao-z. Acesso em: 23 Maio 2024.

OLIVEIRA, J. A. D.; ALMEIDA, R. D. O. A juventude em tempos de cibercultura: fios que se conectam com suas experiências de vida. In: CACCIA-BAVA, A.; SEVERO, M. S. Juventude nas sociedades em crise. Frutal/MG: Prospectiva, 2016. p. 413 - 440

PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

ROCHA, E.; PEREIRA, C. Juventude e Consumo: um estudo sobre a comunicação na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009.

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