Última alteração: 2024-07-02
Resumo
Esta pesquisa se debruça sobre o vídeo "Computador, Email e Google Saíram de Moda" do Canal Meteoro Brasil (2024), investigando como as narrativas digitais, acessíveis através de plataformas como YouTube, abordam a temática das competências digitais entre os jovens. O objeto de estudo permite abordar, dentro do contexto mais amplo, as interações entre tecnologia, educação e comportamento dos jovens na cibercultura.
Tal estudo integra uma pesquisa maior, que busca compreender como a abordagem multirreferencial contribui com o estudo da cibercultura e suas implicações educacionais. Esta investigação é essencial para identificar como as narrativas mediadas digitalmente influenciam as percepções educacionais e tecnológicas dos jovens, revelando as complexidades das interações digitais modernas e seus impactos formativos. Especificamente, busca-se examinar a discrepância entre a percepção dos jovens "nativos digitais" e suas habilidades tecnológicas reais em ferramentas consideradas obsoletas ou tradicionais, como e-mails e computadores pessoais.
Destaca-se a predileção dos “praticantes culturais” (SANTOS, 2018. p.20) por redes sociais e inteligência artificial, usando plataformas como TikTok para pesquisa e WhatsApp para comunicação, em detrimento de ferramentas mais tradicionais como Google e e-mails. Esta mudança nos padrões de comunicação e interação tem impactos significativos no mercado de trabalho, criando desafios e oportunidades para a educação.
Utilizamos as contribuições de Jenkins (2022) sobre cultura da convergência, as ideias de Ardoino (2012b) e Barbosa (1998) sobre multirreferencialidade na análise de paradigmas educativos, as observações de Alves (2008) sobre a expansão do “espaçotempo” educativo, incluindo a tecnologia e Santos (2012, 2018) para entender os processos educativos que ocorrem imbrincados em/na rede e nos espaços físicos. Essas teorias permitem compreender como as interações digitais moldam as competências e a percepção dos jovens sobre as tecnologias.
A relevância deste estudo deriva da necessidade de entender e reagir às narrativas sobre as mudanças nas competências digitais requeridas na modernidade. Em uma era onde a fluência digital é tanto uma necessidade quanto uma presunção para os jovens, é crítico que educadores, formuladores de políticas e a sociedade em geral compreendam as verdadeiras capacidades e lacunas na educação dos jovens, inclusive a tecnológica. A pertinência do trabalho se faz ao abordar a questão crítica da preparação dos jovens para um mercado de trabalho que é, paradoxalmente, tanto intensivamente tecnológico quanto percebido como potencialmente desafiador devido à rápida obsolescência das habilidades. E seu contexto se dá na investigação entre interseção da tecnologia e da educação, em um momento em que a inovação digital e a mobilidade ubíqua (SANTOS, 2018) estão reformulando os cotidianos, especialmente na educação.
Iniciamos a análise abordando a integração das tecnologias digitais na educação, caracterizada pela modificabilidade infinita do conteúdo digital e pela manipulação fácil, que redefine a interação dos usuários com a mídia. A inclusão digital, particularmente no Brasil, é vista como um desafio crucial, refletindo um deslocamento cultural significativo.
A educação contemporânea é apresentada como um processo de construção social e cultural que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela engaja os estudantes em um processo que amplia o “espaçotempo” (ALVES, 2008) de aprendizado, permitindo-lhes não apenas dominar tecnologias, mas também entender e questionar os discursos prevalecentes no ambiente digital. Isso sugere uma abordagem educacional que promove a inclusão e equidade, integrando crítica e participação ativa na cultura digital.
Discutisse a coexistência das tecnologias tradicionais e as novas tecnologias digitais, que permitem uma participação ativa dos usuários, que passam de consumidores passivos a criadores de conteúdo. Assim como explorasse a noção de competência tecnológica, que abrange mais do que o conhecimento técnico, incluindo a habilidade de navegar por diversas plataformas e comunicar-se eficazmente. Essa competência é fundamental para o emprego, aprendizado, autodesenvolvimento e participação na sociedade.
A multirreferencialidade é entendida como uma abordagem epistemológica que reconhece a pluralidade e complexidade dos fenômenos educativos na educação e na cibercultura. Isso permite uma compreensão mais rica sobre a aprendizagem dos jovens, não apenas consumidores, mas como “atores e autores” (ARDUINO, p.96, 2012) que moldam a cultura.
Argumentamos que plataformas digitais como YouTube e TikTok, bem como a interação com a inteligência artificial, devem ser analisadas de forma crítica para entender as implicações culturais e educacionais dessas interações. A análise não deve ser meramente descritiva, mas também interpretativa, buscando entender as subjetividades e comportamentos dentro da cibercultura, tratando os fenômenos como parte de sistemas complexos e interconectados. Essa abordagem nos ajuda a entender como as narrativas sobre tecnologia e educação são moldadas e compartilhadas, destacando a interatividade e a participação ativa no ambiente digital.
O vídeo "Computador, Email e Google Saíram de Moda" do Canal Meteoro Brasil, discute as dificuldades enfrentadas por jovens, considerados nativos digitais, ao usar tecnologias vistas, na narrativa, como mais tradicionais, como computadores, mouses e emails, em contraste com sua fluência em dispositivos mais modernos como smartphones e tablets. O vídeo destaca uma lacuna educacional onde jovens chegam ao mercado de trabalho sem habilidades básicas de informática, revelando uma desconexão entre a fluência tecnológica cotidiana esperada e as competências técnicas necessárias em ambientes profissionais.
A narrativa levanta preocupações sobre a eficácia das competências digitais desses jovens, discutindo a crescente demanda por cursos de "informática 2.0" (METEORO, 2024) que buscam atender às necessidades da nova geração. O vídeo também explora a preferência da geração Z pelo WhatsApp em detrimento do e-mail, sublinhando a diferença nas expectativas de tempo de resposta entre essas formas de comunicação.
No mesmo tom, quando abordam o debate sobre o uso da Inteligência Artificial (IA), o vídeo adota uma linguagem que mescla informalidade e substância acadêmica. As falas são diretas e acessíveis, proporcionando uma compreensão clara dos desafios e das questões éticas envolvidas no emprego da IA em diversas áreas, desde a educação até a indústria.
Destaca-se que muitos jovens preferem plataformas como TikTok para pesquisar informações em vez de utilizar mecanismos tradicionais como o Google. Esta preferência reflete um desafio para algumas gerações, que estão mais habituadas em utilizar buscadores tradicionais, como o Google e outras ferramentas. Há uma preocupação crescente que esta tendência possa levar a uma compreensão superficial das informações, pois o TikTok e plataformas similares podem não fornecer contextos detalhados ou avaliação crítica das fontes, limitando a profundidade e a qualidade do conteúdo acessado pelos jovens.
Nota-se uma abordagem mais descontraída e interativa pode ajudar a tornar o conteúdo mais envolvente e acessível, especialmente ao lidar com temas que podem ser complexos ou sérios. Ao introduzir o vídeo dessa maneira, as narradoras conseguem estabelecer uma atmosfera leve e convidativa, encorajando o espectador a se envolver com o assunto de uma forma mais descontraída e participativa. Esta característica do conteúdo confirma a necessidade de uma avaliação crítica, também, das narrativas digitais e dos paradigmas que as acompanham.
A pesquisa aborda a evolução da informática na educação e as mudanças provocadas pela integração de novas tecnologias. Jenkins (2022) discute a complexidade da interação entre mídias antigas e novas dentro de uma ecologia midiática híbrida, onde diversos grupos interagem através de portais de mídia compartilhados. A partir do final do século XX, a expansão dos computadores pessoais sinalizou a necessidade de formação profissional especializada, levando escolas e universidades a incorporar a informática como componente essencial nos currículos. No entanto, frequentemente, a informática foi ensinada de forma disciplinar rígida e isolada de outras áreas do conhecimento, limitando sua eficácia e potencial transversal.
O contexto sociocultural brasileiro indicara que, embora a informática penetrasse cada vez mais no tecido social, nas escolas ela se tornava uma área isolada e fragmentada (SANTOS, 2012). Apesar da presença de tecnologias como smartphones e tablets, as escolas não conseguiram promover transformações significativas na educação (PRETTO, 2013). As tecnologias emergentes, como a Web 2.0, permitem experiências de inteligência coletiva e aprendizado colaborativo, mas a educação ainda luta para acompanhar a rápida evolução tecnológica, muitas vezes deixando os alunos mais equipados em casa do que na escola.
A familiaridade dos jovens com a tecnologia desde cedo, descritos como "nativos digitais", contrasta com a percepção de que possuem habilidades avançadas em todas as áreas tecnológicas. Na realidade, eles podem enfrentar desafios com tecnologias tradicionais de escritório que ainda são necessárias no ambiente profissional. Martins & Santos (2018) destacam a necessidade de compreender a comunicação móvel e ubíqua e de refletir sobre modelos pedagógicos que considerem a aprendizagem contínua e em rede.
A educação, então, é vista como um processo contínuo que transcende a sala de aula tradicional, onde os currículos devem ser adaptativos e refletir a interatividade e a diversidade do mundo moderno. Os jovens veem o YouTube como uma plataforma para expressão individual e coletiva, muitas vezes se sentindo excluídos pela linguagem especializada da política tradicional (JENKINS, 2022). Ribeiro & Santos (2018) sugerem que a formação de identidade e aquisição de conhecimento ocorrem em um intercâmbio dialógico com os outros, enfatizando a importância de uma educação que promova a autonomia do aluno e o reconhecimento de diversas formas de saber e aprender.
Desta forma, argumentamos que as práticas educacionais atuais devem ser revisadas para integrar melhor as tecnologias digitais e reconhecer as formas variadas e válidas de aprendizagem que ocorrem tanto dentro quanto fora dos ambientes educacionais formais. Essa abordagem mais inclusiva e representativa valorizaria a diversidade formativa dos jovens e sua capacidade de atuar como “ciberautorcidadãos” (RIBEIRO & SANTOS, 2018) influentes na sociedade em rede.