“Emergências climáticas” é o tema transversal do segundo dia de Simpósio em Florianópolis
Mais um ciclo de palestras abordou os contextos e possíveis caminhos para adiar o fim do mundo nesta quinta-feira (5), no segundo dia do XVII Simpósio Nacional da ABCIBER. As discussões ocorreram no auditório do CEART da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no campus da capital Florianópolis.
Pela manhã, além das exposições que acontecem na Universidade e que durarão todo o evento, a primeira mesa de tema “Reflexões sobre a emergência climática em arte, letras e comunicação” contou com a participação das professoras Andreia Machado Oliveira (UFSM); Evelyne Costa (UFSM); Liliane Dutra Brignol (UFSM) e com a mediação de Bernardo Queiroz (UAM). A segunda mesa foi sobre “Inteligências conectadas, humanidades digitais e a emergência climática”, com Priscila Gonsales (Educadigital), Eduardo Fofonca (UTP), com mediação de Mara Rúbia Sant’Anna (UDESC).
À tarde, as discussões se iniciaram com a mesa III, com o tema “Como adiar a pauta do fim do mundo? O papel das mídias e do jornalismo na comunicação da crise climática”, mediada pela professora Mirian Meliani (USP/Febasp). Nesta mesa, as pesquisadoras colocaram o crucial posicionamento das mídias, constantemente reconfiguradas dentro de novos contextos informacionais, tecnológicos, epistêmicos e culturais.
Para Beth Saad (ECA-USP), “tudo se tornou muito mais transversal, quase que se entremeando, enraizando intercampos. O que eu chamo de transversalidade polissêmica fractal, o que quer dizer que a comunicação não é única, é múltipla”. A ideia aborda a possibilidade de novas configurações para a comunicação que também bebam do conhecimento de outras áreas, como a sociologia, as artes, a arquitetura e o design.
Stefanie da Silveira (UFSC) falou sobre o “Jornalismo diante de Gaia”, fazendo referência ao livro de Bruno Latour, “Diante de Gaia”. A ideia é a de que o Jornalismo pouco está posicionado para enfrentar as múltiplas crises instaladas e que, apesar de ter a prerrogativa, pouco age para superá-la. Para finalizar, Margareth Boarini (PUCSP) falou sobre como a “pauta do fim do mundo” não pode ser mais adiada, mas ao contrário: precisa estar presente na mídia de diferentes linguagens e maneiras para que questões complexas sejam verdadeiramente compreendidas.
Keynote speakers: cenários exigem medidas radicais
Com mediação da professora Mirian Meliani (USP/Febasp), a programação da tarde seguiu com a palestra do keynote speaker Carlos Nobre (INPE). Um dos mais renomados climatologistas do país e um dos cientistas brasileiros mais conhecidos mundialmente, Nobre foi coordenador geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/CPTEC-INPE e criador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre/CCST-INPE e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais/CEMADEN-MCTI. Foi Alto Conselheiro Científico do Painel Global de Sustentabilidade da ONU. É, atualmente, membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Global de Ciências e membro estrangeiro da Academia de Ciências dos EUA e da Royal Society da Grã-Bretanha. Participou de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e foi um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz (2007). O cientista apresentou um detalhado panorama, no qual demonstrou os caminhos que iminentemente virão, caso a humanidade não zere as emissões de gases na atmosfera. Como diagnóstico estarrecedor, ele demonstrou que já estamos no ano mais quente registrado na história humana até o momento. E que desastres naturais extremos ficarão cada vez mais comuns, dificultando e inviabilizando a vida em diversas regiões do planeta. Apesar do prognóstico, ele ressaltou a importância de ações humanas para que os piores cenários não se concretizem.
Segundo Nobre, o deslocamento de pessoas vulneráveis – crianças, idosos, pessoas com a saúde comprometida – das áreas de risco para eventos extremos é uma das medidas para a proteção imediata de vidas. Além disso, a diminuição das desigualdades é um dos fatores que deve ser perseguido para proteger as populações em risco.
O dia finalizou com a palestra “Glocalização planetária, discrepâncias dromocráticas e neofascismo anticlimático” de Eugênio Trivinho (PUCSP), professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS/PUC-SP). Coordenador Geral do CENCIB – Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação e Cibercultura/PUC-SP, Trivinho é pesquisador do CNPq (Bolsa de Produtividade), membro do Conselho Editorial do ‘The Conversation Brasil’ desde 2023 e foi um dos fundadores da ABCiber, tornando-se membro do Conselho Científico Deliberativo. Foi presidente da instituição nos biênios 2007-2009, 2009-2011 e 2016-2017.
Com mediação de Priscilla Magossi (PUCSP), Trivinho falou sobre como a dromocracia – o regime invisível da velocidade tecnológica na vida humana – traz uma discrepância de velocidades entre a “dromocratização da natureza e a dromocracia empresarial e estatal”. Segundo ele, a velocidade com a qual os problemas existem é incompatível com as tentativas de saná-los ou mitigá-los. Há uma “dromoinaptidão” concernente aos atores que tentam buscar soluções para os problemas, agravados pela ascensão do neofascismo anticlimático que, segundo ele, “joga a favor da morte em larga escala”.
Por: Jamila Carvalho (UFSC)