SINOPSE DA OBRA



            A presente obra reúne textos de importantes pesquisadores brasileiros em torno do fenômeno historicamente emergente e transnacional da cibercultura, a formação sociotecnológica correspondente ao desenvolvimento contemporâneo do capitalismo tardio, articulado e modulado pela apropriação coletiva de media interativos e do ciberespaço.
            Segundo ebook online da Coleção ABCiber, aberto ao acesso universal, o projeto concentra e aprofunda preocupações teóricas, epistemológicas e metodológicas a respeito das principais características do processo civilizatório aí pressuposto, de base multimediática avançada – suas origens, seu estado da arte, suas tendências e horizontes –, e, em particular, de como ele se expressa no Brasil, seja por seus aspectos problemáticos, seja por sua diversidade e suas potencialidades.
            Como tal, a obra complementa o ciclo reflexivo e crítico aberto pelo primeiro volume da Coleção, totalizando um manancial próspero de argumentações que abarcam diferentes campos de atuação humana, como o da ciência, da pesquisa e do ensino, do jornalismo e da fotografia, da música e do entretenimento, do ciberespaço, das "redes sociais" e da vida cotidiana, e assim por diante, bem como várias áreas de conhecimento, entre elas a Comunicação, a Ciência da Informação, a Sociologia, a Filosofia, a Semiótica, a Ciência Política, o Direito, a História, a Educação, a Psicologia, as Artes e o Design.
            Sob esse arco interdisciplinar, a espinha dorsal explícita ou pressuposta das sete Partes da obra envolve, fundamentalmente, as relações entre poder, liberdade, sociabilidade, mobilidade e transformação, conceitos nucleares complexos que, como fios condutores das argumentações propostas, mormente quando entrelaçados – relações de poder sob a égide das pulsões por liberdade; sociabilidade segundo a ética do compartilhamento, da cocriação e do contágio; e mobilidade à sombra da renovação de direitos –, nomeiam, não por acaso, os próprios fios condutores precípuos do processo civilizatório atual. Esse mosaico de fatores articulatórios radica, por sua vez, no bojo de processos específicos tão diferentes quanto aparentemente desconexos, abrigados na obra, a saber: a construção e consolidação de um campo emergente de conhecimento e o respectivo povoamento da divisão social do trabalho intelectual; as estruturas dinâmicas do capitalismo cognitivo, o acoplamento fatal entre ente humano, equipamento e rede, as configurações sociotecnológicas da inteligência coletiva, as modalidades de expressão e visibilidade do sujeito e do corpo no ciberespaço, as formações discursivas dos agentes promotores da cibercultura, o status sociotécnico de hierarquia e os estilos de vida no horizonte do nomadismo digital; o reescalonamento interativo da micropolítica, a recriação e colonização de novos espaços de atuação, urdidura e partilha nas cidades e na rede, a lógica da recombinação, do commons e das práticas colaborativas, e os contraditos legítimos à perpetuação da propriedade intelectual; a protuberância social invisível da videovigilância, a realização voyeurística e lúdica do controle generalizado e a mercantilização online das paixões e afetos; a superação coletiva do paradigma positivista de pensamento, os modos de criação e exposição pública da arte digital e a afirmação epocal de competências cognitivas e de práticas de consumo, entre outros processos relevantes.
            Em especial, os textos apreendem, direta ou indiretamente, os pendores aleatórios e incertos de transformação interna do metabolismo sociotecnológico, político-jurídico, espaço-corporal, estético-subjetivo e ético-prático da cibercultura – pendores que afirmam e reescalonam a indeterminação e imprevisibilidade estruturais da fase ciberespacial da vida humana.
            Nesse contexto, os capítulos se perfilam, com igual intensidade, na apreensão – explícita ou implícita – do híbrido como empiria processual multilateral e, em razão disso, simultaneamente, como noção privilegiada de época.
            Em muitos textos, sobreleva-se o exercício reflexivo necessário de tensão que desfia, além dos aspectos anteriormente citados, a estrutura sociocultural, político-econômica e tecnológica dos media de massa, a tradição da permissão legal, as limitações ao acesso aos media, redes e dados, as formas de interatividade precárias, o ensino e aprendizagem enrijecidos por métodos e procedimentos defasados, as tendências ciberufanistas e a segregação digital.
            Mais que tudo, os fios condutores, os focos principais e as temáticas nucleares da obra condicionam a detecção qualificada das formas socioculturais e infotecnológicas do híbrido, do imaterial e do móvel sem perder de vista o norte da defesa ética necessária da liberdade e da solidariedade como valores universais, nisso se equacionando, em identidade fidedigna, com os princípios de base e com a trajetória da ABCiber - Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura no Brasil.