Perspectivas Interdisciplinares e Reconfigurações na Cibercultura: Dados, Algoritmos e Inteligência Artificial
Os usos mercadológicos de dados gerados por interações humano-máquina na cibercultura ganham novos contornos nesta primeira metade do século XXI. Num ambiente digital regido por sistemas algorítmicos opacos e com perspectivas de regulamentação paralisadas, os processos de construção do conhecimento científico procuram traçar caminhos para responder aos desafios incessantes de reconfiguração da vida social.
Simultaneamente, as interfaces interativas, atravessadas pelos mais recentes modelos de Inteligência Artificial (IA), evocam questões que se somam às de etapas anteriores da realidade tecnológica. Exigem estratégias de reflexão sobre os horizontes do humano e da saúde mental individual e coletiva capazes de desnaturalizar os colonialismos digitais e redimensionar as repercussões político-científicas dos modelos emergentes de enunciados textuais, imagéticos e audiovisuais, hoje marcados por novos determinismos tecnológicos.
À sombra da reconfiguração da privacidade por processos de vigilância algorítmica, a sociedade é chamada a questionar a IA e seus modos de consciência, ação e representação. No conjunto das abordagens críticas a respeito, até que ponto a IA pode ser igualmente considerada um dispositivo de construção social e psicológica?
Diante desses desafios, a ABCiber - Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura aposta no revigoramento de diálogos interdisciplinares como caminho fundamental de rearticulação interpretativa. Seu Encontro Virtual 2024, em formato já conhecido, 100% remoto, será realizado nos dias 20 e 21 de junho, em parceria com o Centro Universitário das Faculdades Associadas (UNIFAE) de São João da Boa Vista, instituição pública de ensino superior sediada no estado de São Paulo.
Para análise da questão formulada, dividiu-se o tema em 3 vertentes básicas, com o objetivo de discutir trabalhos que preferencialmente abordem os apresentados em cada um dos GTs (Grupos Temáticos) :
GT1 Regimes de veridição em tempos de IA
Este Grupo de Trabalho tem como objetivo avaliar a etapa atual de uso massificado de sistemas de Inteligência Artificial no mundo do trabalho, da ciência, das artes e da educação. Igualmente, o GT prevê apresentação e discussão de pesquisas sobre questões emergentes, como o colonialismo de dados, a desinformação e o negacionismo, as técnicas de deepfake e os desdobramentos políticos da IA, além dos atravessamentos tecnológicos nos regimes de veridição em diferentes campos do saber.
GT2 Estratégias de comunicação em ambientes digitais
Este Grupo de Trabalho se dedica a investigações sobre narrativas digitais e sua influência na compreensão e circulação de informações e dados que permeiam diversos campos de atuação científica e profissional. Busca-se, assim, trazer à tona reflexões e discussões sobre estratégias e dinâmicas comunicacionais (especificamente digitais, interativas e algorítmicas), processos semióticos, artes, formas de entretenimento e fruição, práticas de consumo e questões éticas na contemporaneidade.
GT3 Representação corporal, saúde e sofrimento no ciberespaço
Este Grupo de Trabalho tem como propósito discutir as interações e representações do corpo nas redes digitais, com foco em seus impactos na saúde mental e física. Priorizando questões de autoimagem, identidade, distorção corporal, cyberbulling e similares, o GT prevê ainda trabalhos e reflexões sobre os limites éticos do uso sistemático da coleta de dados privados, sobre as práticas de diagnóstico virtual e o avanço da IA no campo da saúde, em todas as suas relações interdisciplinares