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ISSN : 2175-2389
REPROGRAMAÇÃO NO CIBERESPAÇO
Priscila Magossi

Última alteração: 2021-08-24

Resumo


O presente artigo está dedicado ao estudo da reprogramação dos afetos e da sexualidade na sociedade tecnológica atual manipulados pela indústria de entretenimento adulto no ciberespaço, com foco no setor de webcamming. O ciberespaço é compreendido como território virtual de deslizamento de signos em tempo real, resultante do processo de digitalização da informação, esteio do capitalismo atual. O conceito de reprogramação refere-se à ação ou ao resultado de modificar estímulos vigentes de qualquer ordem para uma finalidade nova e distinta. A reprogramação afetivo-sexual, por sua vez, é aqui definida como o processo de manipular o indivíduo ”” do gênero masculino especificamente ”” a gradativamente transferir suas preferências originais para o simulacro e para a hiper-realidade fabricados pela indústria de entretenimento adulto. A argumentação pressupõe que o oligopólio de empresas que controla o mercado de webcamming ”” no Brasil e no mundo ”” está deliberadamente reprogramando a afetividade e a sexualidade dos seus consumidores a partir de estratégias de manipulação semelhantes às utilizadas por redes sociais. notadamente Instagram e Facebook. A lógica de funcionamento das redes sociais se dá mediante feeds, isto é, conteúdos hiper-customizados, a partir do que se tornou comum chamar de ”œalgoritmos”, ou seja, um conjunto de regras de negócios cuja finalidade é viciar os usuários em conteúdos que se apresentam sutilmente cada vez mais radicalizados. No caso do setor em análise, acredita-se que uma das faces da reprogramação seja viciar o homem em experiências que objetificam e desumanizam as mulheres a partir do estímulo à perversão. Objetiva-se, portanto, investigar como a indústria de webcamming, especificamente, está usando esta mesma estratégia para manter adormecida a consciência crítica do seu público consumidor e domesticando as suas profissionais para que este espetáculo distópico aconteça em tempo real, alterando, assim, o modo de sentir, pensar e agir dos homens em suas experiências online e offline. A articulação temática entre webcamming, comunicação, ciberespaço e cultura digital é feita com base no referencial teórico das teorias da comunicação, do imaginário, do pós-moderno e da cultura virtual. Entre os autores vislumbrados destacam-se Baudrillard, Bauman, Debord, Freud, Jung, Sevcenko e Trivinho. Com essas características, a relevância deste artigo justifica-se pela contribuição ao campo de estudo da comunicação e da cibercultura, a partir de um ponto de vista necessariamente tensional, vale dizer, mais criterioso e profundo, dentro do mencionado ramo temático

Palavras-chave


ciberespaço; cultura digital; reprogramação psicoafetiva e sexual; webcamming; perversão.

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