O documentário O dilema das redes (Jeff Orlowski, 2020) trata de como as redes sociais digitais foram estruturadas para manter o usuário conectado o máximo de tempo, da extração contínua de dados, da alteração deliberada de comportamentos e da ameaça à democracia. Para isso, o filme emprega elementos ficcionais e não-ficcionais. Este trabalho trata de alguns de seus elementos ficcionais; mais especificamente, dos recursos de encenações, bem próximos do docudrama. Essa escolha se dá porque o documentário intercala depoimentos de pessoas envolvidas no desenvolvimento de redes sociais com uma história fictícia de uma família às voltas com questões sobre o uso cotidiano dessas plataformas. Os elementos ficcionais usados facilitam a compreensão de um assunto abstrato: a obtenção e o uso dos dados e suas consequências. Embora a dramatização presente em O dilema das redes não seja exatamente a criação de uma ficção a partir de acontecimentos reais, a ficção ali desenhada se refere a situações que podem estar presentes no mundo real com características narrativas similares às do docudrama. Nossa hipótese é a de que essa aposta oxigena o espectro do docudrama, tanto do ponto de vista da realização, quanto de seu debate analítico-teórico.