Última alteração: 2024-07-02
Resumo
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) atuam com o objetivo de facilitar a disseminação de informações, a comunicação de seus usuários, além de promover melhorias no acesso às informações de saúde por meio da utilização de ferramentas como computadores, softwares, celulares, aplicativos e outros dispositivos. Sendo assim, a teleorientação foi estratégica no enfretamento da pandemia pelo coronavírus. Desde então, vem sendo aprimorada e aplicada em diversas situações de atendimento aos usuários da saúde. O termo "telessaúde" (ou telereabilitação, teleconsulta e telemonitoramento) pode ser considerado para descrever a prestação de cuidados de saúde a distância utilizando plataformas de comunicação. Neste artigo, será usado o conceito de teleorientação, como forma complementar de prestação de serviços de orientação durante o processo de reabilitação, nas quais são utilizadas TICs para facilitar a comunicação entre o profissional e o paciente em um local remoto. Este modelo de atendimento tem se mostrado eficaz comparado à reabilitação realizada presencialmente quando somadas às melhorias nos cuidados habituais. A teleorientação surgiu como uma modalidade promissora para superar várias limitações, uma vez que permite que pacientes e cuidadores possam interagir com a equipe de profissionais da saúde e afins de forma remota. Pelo computador ou pelo celular, é possível que recebam orientações e tirem dúvidas. Além disso, os serviços de teleorientação podem prover acessibilidade e cuidados a pacientes de outras regiões.
Trata-se de um estudo de campo exploratório descritivo com abordagem qualitativa. Foram convidadas mulheres no pós-operatório de câncer de mama a participar de 25 encontros semanais, via plataforma Zoom, onde as pacientes receberam orientações de um profissional diferente a cada semana, com temas variados abordando aspectos do câncer de mama. Foram desenvolvidas reuniões semanais com profissionais da área saúde e áreas afins, com objetivo educacional, de orientação, conscientização e otimização na reabilitação durante todas as fases do tratamento, além da abertura de um espaço para compartilhamento de informações, retiradas de dúvidas e questionamentos, além de momentos reflexivos e de desabafo sobre sua doença. As atividades foram supervisionadas por docentes e realizadas por discentes dos cursos de graduação da UNIFAE, além das atividades propostas pelos parceiros entre os anos de 2020 e 2021. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob registro CAAE 44706121.9.0000.5382. O programa contou com reuniões com palestras multiprofissionais. Durante a realização das palestras, as falas e os comportamentos das pacientes foram observados. Após a transcrição destas falas, os assuntos foram categorizados qualitativamente. Sobre a recepção do diagnóstico, foi identificada entre as mulheres a presença do sentimento medo, seja por perdas anteriores de entes ou pelo impacto negativo estigmatizado da doença. Em relação a percepção do tratamento, o tratamento do câncer foi relatado como um processo muito doloroso e que ocasiona sofrimento, sendo necessário procedimentos que trazem consequências negativas e sintomas adversos. As pacientes relataram diversos sintomas negativos oriundos de seu tratamento. Apesar da consciência do grau de seriedade da doença, assim como as consequências negativas, essas mulheres acreditam na recuperação, mostrando adesão às orientações e tratamento propostos. Levantando a hipótese dessas mulheres perceberem de uma forma mais intensa com as mudanças e mutilações corporais causadas pela doença e o tratamento, o que interfere no relacionamento e na sexualidade do casal. Também mostrou que, quanto maior a idade, menos negativa era a representação emocional. Há associação positiva entre a percepção da doença e seu enfrentamento. As pacientes relataram sintomas de ansiedade e depressão. Percebeu-se que existe um grau de vulnerabilidade social distintos, mas que se associam quando pensados no processo de reabilitação da doença. Notou-se pelo relato coletado que há o conhecimento da importância do autocuidado não só relacionado às estratégias de controle dos sintomas adversos do tratamento, mas com os benefícios sociais e mentais envolvidos na prática. O diagnóstico e tratamento do câncer impactaram diretamente a autoimagem e identidade das mulheres, por estarem ligadas à imagem que se tem do ser mulher e os conceitos e feminilidade presentes na sociedade. Os relatos apontaram que pacientes que tinham casos anteriores na família, se sensibilizaram ao relatar os casos, enfatizando o sofrimento presenciado, porém, esse sofrimento foi utilizado como força para apoiar a luta em prol do tratamento e recuperação da doença. Através dos relatos foi possível confirmar que o apoio da família, amigos e da fé, são importantes no processo de enfrentamento da doença para o paciente. A aceitação da doença está ligada à fé e às crenças religiosas e é um sentimento necessário para ocorrer o enfrentamento da doença, se mostrando um forte instrumento para a família e o paciente, proporcionando conforto e esperança para a superação da doença.
Orientar para prevenir
Entre os resultados, foi contatado que um dos principais caminhos para a melhor orientação dos pacientes seria a educação para a prevenção e para a compreensão do que é a doença, quais os tratamentos, as possibilidades de melhora e recuperação. Entretanto, ainda é necessário que mais informações sejam divulgadas. Os participantes apontaram como essa falta de informação pode inclusive prejudicar o tratamento em andamento. Sendo assim, ao deixar claro para o paciente como os medicamentos funcionam, seus efeitos adversos e possíveis reações, o mesmo poderá se preparar para essas situações e procurar o profissional necessário para reavaliar seu quadro. No período da pandemia, pode-se perceber que o acesso de mulheres no pós-operatório de câncer de mama ao serviço de saúde oncológica foi reduzido, pela necessidade do distanciamento social, fato que a longo prazo traz consequências negativas. A partir deste estudo foi possível notar que as pacientes aderiram aos encontros semanais com informações sobre o câncer de mama, mostrando interesse nos assuntos abordados, compartilhando suas histórias, refletindo sobre seus hábitos e podendo obter novas percepções sobre o câncer de mama e o reflexo em suas vidas, tornando o grupo de encontros, um grupo onde pudessem encontrar forças e esperanças durante essa trajetória.
Os centros especializados em tratamento oncológicos se localizam muitas vezes em grandes cidades, sendo de difícil acesso para muitos pacientes que habitam lugares distantes e com recursos mínimos. A telessaúde, assim como a teleorientação, podem se tornar importantes recursos na otimização da dissipação de informações, possibilitando orientação sobre auto-avaliação, diagnóstico precoce, gerando maiores chances de cura e menores reflexos funcionais do tratamento, mesmo após a pandemia. Este trabalho mostrou que a teleorientação foi uma ferramenta de extrema utilidade para a continuidade da educação em saúde multiprofissional durante a pandemia do COVID-19, pela facilidade e baixo custo do acesso ao serviço, possibilitando alcançar lugares de difícil acesso, atender uma maior demanda, até mesmo em outros estados e regiões, além da diminuição da exposição ao contato, respeitando as normas de distanciamento social. Este estudo demonstrou como a apropriação dos usuários pelas ferramentas digitais de comunicação, representam um ganho para a saúde e qualidade de vida delas. No presente estudo pode-se observar a importância do olhar multiprofissional nas pacientes oncológicas, no intuito educativo, de orientações e mudanças de percepções e práticas, após procedimentos de retirada da mama. Enfatiza-se a importância da atuação multidisciplinar na atenção oncológica, especialmente em relação aos cuidados e benefícios da fisioterapia na atuação contra o câncer de mama. Neste projeto foi observado importante envolvimento dos estudantes, não só como planejadores e executores das ações propostas, mas pelo envolvimento emocional as palestras e com os depoimentos das mulheres com câncer de mama.
Palavras-chave
Telessaúde; Tecnologia da Informação; Reabilitação Oncológica; Covid-19.
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