ABCIBER | Simpósios e Encontros, ENCONTRO VIRTUAL DA ABCIBER 2024

ISSN : 2175-2389
Cartilha De Orientações Para Um Ambiente Familiar Comunicativo E Acolhedor
Ana Cristina SALVIATO-SILVA, Adriana Elisa Campagnaro DE OLIVEIRA

Última alteração: 2024-06-08

Resumo


A comunicação familiar refere-se ao processo de troca de informações, sentimentos, pensamentos e experiências entre os membros de uma família. Durante essa interação, tanto a comunicação verbal quanto a não verbal estão presentes, embora nem sempre coincidam, pois expressamos nossos pensamentos de diversas maneiras. Muitos estudiosos defendem que a comunicação verbal é fundamental na construção de vínculos interpessoais (RELVAS, 1996; SOUSA, 2015, apud DIAS, 2015). Segundo Gouveia-Pereira et al. (2020), a comunicação familiar, conforme discutida por Olson (2011) e Olson & Barnes (1996), desempenha um papel crucial nas relações dentro da família, facilitando a compreensão, empatia, colaboração e coesão. A falta de comunicação adequada, por outro lado, pode resultar em mal-entendidos, conflitos e distanciamento entre os membros familiares.

A comunicação eficaz dentro do ambiente familiar é fundamental para o desenvolvimento saudável das relações interpessoais e para a construção de um espaço seguro e acolhedor para todos os membros (DIAS, 2011).

Neste contexto, considerando o ciberespaço como ambiente educomunicativo, surge a o projeto de elaborar uma cartilha educomunicativa que oriente pais e responsáveis na promoção de uma comunicação positiva e construtiva em família. Este trabalho busca não apenas identificar os principais desafios enfrentados na comunicação familiar, mas também, por meio de recursos digitais de informação, hoje acessíveis a grande parte do público alvo, fornecer ferramentas e estratégias baseadas em teorias de psicoeducação para fortalecer os laços familiares e promover um ambiente propício ao desenvolvimento emocional e social dos seus integrantes.

Proporcionar educação para saúde mental por meio de instrumentos de comunicação no ciberespaço é também papel do profissional e pesquisador em psicologia. A partir do estudo teórico, esse trabalho justifica-se priorizando a elaboração uma cartilha digital educomunicativa que transmita ao público alvo a importância da comunicação para o bem-estar e a harmonia no ambiente familiar. Por meio de uma abordagem baseada em evidências científicas,  pretende-se oferecer aos pais e responsáveis um guia prático e acessível para lidar com os desafios comuns da comunicação em família.

Após revisão teórica que identifique os principais problemas de comunicação, objetiva-se embasar as propostas da cartilha em teorias e preceitos de psicoeducação para conscientizar os responsáveis sobre a relevância da comunicação familiar. Acredita-se que este trabalho possa contribuir para o fortalecimento dos vínculos familiares e para a promoção de um ambiente seguro, acolhedor e propício ao desenvolvimento saudável de todos os seus membros. A disseminação da cartilha por meio de plataformas digitais acentua a importância do ciberespaço como ambiente educativo e democrático, proporcionando benefícios, não apenas aos destinatários diretos, mas também à sociedade, que se beneficia com a utilização das tecnologias digitais para promoção da saúde e bem-estar.

Dessa forma, o objetivo deste trabalho é, a partir de uma revisão teórica sobre a comunicação familiar, elaborar uma cartilha digital educomunicativa, visando orientar pais e responsáveis para criação de um ambiente seguro e acolhedor para comunicação em família. Mais especificamente os objetivos do estudo são:Identificar os principais problemas de comunicação, considerando pontos positivos e negativos da utilização de tecnologias no ambiente familiar; Pesquisar por teorias e preceitos de psicoeducação para elaborar  propostas para elaboração de uma cartilha educomunicativa; Conscientizar pais e responsáveis a respeito da importância da comunicação familiar para a saúde mental dos integrantes do núcleo familiar.

Em relação ao método, incialmente montou-se uma  planilha com os conteúdos norteadores da cartilha. 1.            Tema: Criação de um ambiente seguro e acolhedor para a comunicação em família; 2. Título da Cartilha: Conversando em Família: Como Anda o Diálogo por Aí?; 3. Subtítulo: Cartilha de orientações para um ambiente familiar comunicativo e acolhedor; 4. Papel da Comunicação na Família; 5. Principais problemas de comunicação no ambiente familiar; 6. Orientações para melhoria da comunicação; 7.        Missão da Família e Comunicação; 8. Comunicação familiar como prevenção aos comportamentos e situações de risco. Em seguida, realizou-se buscas em bancos de dados científicos para encontrar artigos relevantes sobre o tema. A partir dessa pesquisa, foram selecionados os materiais que melhor se adequavam ao assunto, os quais foram categorizados para elaboração da cartilha. Para aprofundar a compreensão do tema de pesquisa, conduzimos uma investigação na plataforma "Periódico.Capes" durante abril de 2024, empregando seis termos-chave. Esses termos foram Comunicação no sistema familiar; Comunicação relacionamento familiar; Comunicação em família; Relacionamento ente pais e filhos; Psicoterapia da família; Comunicação na parentalidade. O processo de busca resultou na seleção de 06 artigos que compuseram o referencial teórico deste estudo.

De acordo com Creutzberg, Gonçalves, Sobottka e Santos (2007), a missão primordial da família reside em criar e manter um ambiente propício para o florescimento de relacionamentos significativos. Dentro desse contexto, a comunicação desempenha um papel central, sendo insubstituível por qualquer outro sistema parcial. Quando essa comnunicação se torna íntima, ela ganha relevância, contudo, pode ser afetada por pertubações nos sistemas psíquicos, resultando em interferências no acoplamento estrutural.

A participação da família desempenha um papel essencial no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. As famílias e os fatores associados a elas exercem influência significativa na educação, na socialização, no cuidado, na transmissão de valores e crenças, assim como na saúde e no bem-estar de todos os membros. Mesmo enquanto os adolescentes expandem seus horizontes, os pais continuam sendo seu principal suporte para questões relacionadas à proteção, segurança, bem como problemas escolares e de saúde (TOMÉ et al., 2011)

É evidente que as interações sociais desempenham um papel crucial durante a adolescência, especialmente em relação ao bem-estar psicológico dos jovens. Parece que quanto mais fluida é a comunicação entre adolescentes e seus pais ou amigos, mais saudável tende a ser o vínculo que estabelecem com ambos. Relações negativas tanto com os pais quanto com os pares podem resultar em sentimentos de desconforto. Da mesma forma, a insatisfação com as interações sociais pode conduzir à solidão e à infelicidade (CORSANO; MAJORANO; CHAMPRETAVY, 2006).

A capacidade de se comunicar facilmente tanto com os pais quanto com os pares reflete um relacionamento positivo com ambos. É claro que uma boa relação com amigos e pais parece ser o principal fator de proteção contra o envolvimento em comportamentos de risco. Portanto, é crucial promover essa relação positiva com ambos, pois uma conexão negativa tanto com os pais quanto com os pares pode resultar em sentimentos de desconforto, solidão e infelicidade (CORSANO et al., 2006). Destaca-se a importância de uma comunicação aberta e saudável entre pais e filhos para promover a segurança em relação ao consumo digital, o desenvolvimento emocional e social das crianças e adolescentes, prevenir conflitos familiares e problemas comportamentais, garantir o bem-estar dos filhos e fortalecer os vínculos familiares (DIAS,2011).

De acordo com Soares (2014), a Educomunicação busca, por meio de projetos colaborativos planejados, revisar os padrões teóricos e práticos da comunicação, priorizando desde cedo o exercício da expressão. Essa prática solidária, não apenas amplia o número de sujeitos sociais preocupados com o direito à expressão e à comunicação, mas também promove transformações sociais significativas no cotidiano da vida social. Tendo em vista a importância das transformações sociais, é de grande valia a criação de um material educativo eficaz, que não apenas informa, mas também empodera e estimula a participação ativa dos pais e responsáveis no processo de fortalecimento dos vínculos familiares através da comunicação. As barreiras à comunicação familiar, identificadas por Féres-Carneiro et al. (2017), incluem fatores como emoções intensas, como raiva e tristeza, que podem dificultar a expressão e compreensão dos membros familiares. A falta de habilidades comunicativas, como ouvir ativamente e resolver conflitos de maneira construtiva, pode afetar a qualidade da comunicação. Discrepâncias na percepção, baseadas em experiências e valores individuais, podem levar a mal-entendidos. Defesas primitivas e padrões familiares de relacionamento, como evitar conflitos, também podem representar obstáculos para uma comunicação eficaz. Expectativas não comunicadas e situações de estresse e sobrecarga também contribuem para falhas na comunicação. Reconhecer e superar essas barreiras é fundamental para promover relacionamentos saudáveis e funcionais dentro da família.

O resultado das pesquisas para a construção da cartilha mostram que estratégias para melhorar a comunicação incluem praticar a Escuta Ativa, Comunicar com Empatia, Ser claro e direto, dar e receber feedback, resolver conflitos de forma construtiva, estabelecer momentos de comunicação em família, promover a comunicação não-verbal, praticar a comunicação não violenta, definir regras de comunicação, cultivar um ambiente de confiança, valorizar a comunicação positiva e buscar ajuda profissional quando necessário.

A cartilha trará orientações a respeito de como adotar essas estratégias para fortalecer os laços familiares e melhorar a comunicação entre os membros. Também apontará a importância da  Escuta Ativa, que envolve demonstrar interesse genuíno pelo que o outro tem a dizer, sem interromper. Trará, ainda, instruções de como dar e receber feedback construtivo para promoção de uma interação familiar saudável. Por fim, mostrará mecanismos para proporcionar segurança para comunicação de perigos advindos de espaços digitais e, até mesmo, familiares, atuando na prevenção de situações de risco.

 

Palavras-chave

Comunicação familiar; Cibercultura; Educomunicação; Psicoeducação; Comunicação para saúde.

Referências

CREUTZBERG, Marion et al. A comunicação entre a família e a Instituição de Longa Permanência para Idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 10, p. 147-160, 2019.

 

CORSANO, Paola; MAJORANO, Marinella; CHAMPRETAVY, Lorella. Psychological well-being in adolescence: the contribution of interpersonal relations and experience of being alone. Adolescence, v. 41, n. 162, 2006.

 

DE OLIVEIRA SOARES, Ismar. Educomunicação e Educação Midiática: vertentes históricas de aproximação entre comunicação e educação. Comunicação & educação, v. 19, n. 2, p. 15-26, 2014.

 

DIAS, Maria Olívia. A comunicação como processo de interação e de integração no sistema familiar–os valores. Gestão e Desenvolvimento, n. 23, p. 85-105, 2015.

 

FÉRES-CARNEIRO, Terezinha et al. . Conjugalidade, parentalidade e separação: repercussões no relacionamento pais e filhos (as). Psicologia em estudo, v. 22, n. 2, p. 277-287, 2017.

 

PEREIRA, Maria Gouveia et al. Coesão e flexibilidade familiar: Validação do pacote FACES IV junto de adolescentes portugueses. Análise Psicológica, v. 38, n. 1, p. 111-126, 2020.

 

OLSON, David. FACES IV and the circumplex model: Validation study. Journal of marital and family therapy, v. 37, n. 1, p. 64-80, 2011.

 

TOMÉ, Gina et al. The influence of communication with family and peer group on well-being and risky behavior of Portuguese adolescents. Psicologia, Reflexão e Crítica, v. 24, n. 4, p. 747, 2011.

 

 

 


Texto completo: PDF